sábado, 15 de novembro de 2008

OBAMA BIN LADEN

A UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) está em greve há dois meses. Numa das últimas assembléias docentes, um professor de engenharia, tradicional opositor desse tipo de movimento, ao iniciar sua fala, aproveitou para externar seu regojizo com a vitória do presidente americano eleito, Barak Obama, concluindo assim sua fala:
- Vamos aguardar as mudanças que virão para o mundo todo, com a vitória de Obama Bin Laden.
Foi aquela gargalhada na assembléia. Claro que o referido professor, no calor de sua emoção, confundiu as personagens e, por alguma razão, secreta e inconsciente, fez a junção das duas lideranças internacionais, de coloração tão diferente.
Eu, então, aonde estava, na minha cadeira, aproveitei a deixa pra elaborar mentalmente um texto que abordasse o significado e implicações da criação desse novo personagem, que ora apresento pra vocês.
Retirei do discurso de posse de Obama Bin Laden, o seguinte trecho:
- Sim, nós podemos, este era nosso grito de guerra de campanha. Deixei para lhes falar, neste momento de vitória, do novo poder que nos foi atribuído nessa eleição: o de domínio, amplo, geral e irrestrito do mundo, com a criação de um novo ser planetário, capaz de todo o poder do mundo. Sim, meus compatriotas, eu sou o Obama Bin Laden.
Foi uma grande reação de perplexidade, naquele dia memorável em Chicago. Alguns abriram a boca, cheios de surpresa e, também, de medo. Outros acharam o máximo, naquela euforia de vitória tudo se explicava, sobretudo para os que tinham um pezinho nos países muçulmanos.
Obama continuou:
- Pois é, americanos de todas as cores e crenças. Eu sou o todo poderoso, a nova face do capitalismo. Como vocês sabem, não há crise que nós não a enfrentemos como superação de nós mesmos, de nossa história, de nosso poder no mundo. E com soluções em novas roupagens.
Alguém da multidão, próximo do palco, levantou a mão. O presidente, porque já estava mesmo eleito, resolveu atender àquela manifestação:
- Diga, meu compatriota.
- Presidente, por que resolveu juntar à sua pessoa, aquele tido como o maior terrorista de todos os tempos? Não será algo difícil de aceitação pelos seus eleitores?
- Pelo contrário, meu jovem. Temos que dominar o terrorismo, anulando o seu poder pela via monetária. Vamos dar a seus líderes um reforço de caixa de muitos bilhões, para que eles os distribuam entre seus seguidores, assim ficaremos protegidos em relação aos seus planos de nos atingir com outros atentados.
- Presidente, a ideologia deles é o oposto da nossa, não acredito que isso possa dar certo.
- Errado, meu jovem. Só existe uma ideologia no mundo, a do bolso, esta altera todas as crenças e emoções.
A essa altura, já havia uma agitação muito grande no meio da multidão. Uma mulher, muito velha, pediu para ser ouvida:
- Presidente, estou muito confusa, votei no meu candidato que se chamava Barak Obama e, agora, fico sabendo que ele, de fato, se chama Obama Bin Laden. Como devo chamá-lo?
- Minha senhora, nada mudou, tudo estava escrito. O que aconteceu foi a necessidade de arrumarmos um jeito de continuar sendo os donos do mundo. Por isso, precisamos fazer esse ajuste. Quero lembrar que meu nome completo é: Barack Hussein Obama e, com minha vitória, acrescentei Bin Laden. Trago nele a síntese de todas as soluções. O Hussein, por exemplo, fica por conta da guerra do Iraque, trago o nome do ex-ditador, o que facilita acabar com essa guerra que nós inventamos e precisamos dar um jeito de usufruir dela.
- Presidente, estou assustada, o senhor está parecendo a junção de Deus com o Diabo.
- Brilhante, minha senhora! É isso mesmo. Eu sou o Bem e o Mal juntos, daí o nosso poder planetário.

domingo, 9 de novembro de 2008

PARAFUSOS E TIPOS HUMANOS

Quantas vezes cada um de nós já disse ou escutou alguém dizer que fulano de tal tem um parafuso, a menos ou a mais. Hoje quero discutir um pouco essa questão, sob alguns prismas, partindo de um pressuposto: vocês já pensaram se todos os humanos tivessem os parafusos no lugar, como chatésima seria a convivência humana?
Pensemos agora sobre pessoas que conhecemos pela vida fora, que são, digamos assim, bem arrochadinhas. Por exemplo, você já se deparou com um funcionário público administrativo, daqueles que usam óculos de aro grosso preto e guarda-chuva preto, modelo de antigamente? Esse é o protótipo do parafusado de cabo a rabo... desculpe a chula expressão.
Outro tipo é o sacristão de cidadezinha do interior, aquele que beija a mão do padre, usa camisa abotoada até o gogó e sacode aquele sino da missa como se estivesse tocando um instrumento de percussão. A cara eles já sugere um parafusão, daqueles que servem pra arrochar as pessoas como se fossem objetos.
Há também o crente dessas seitas religiosas, que anda pregando pelas ruas a conversão das pessoas. Alguns usam roupas escuras, pretas ou azul marinho, ou então, totalmente brancas, como se essas cores revelassem o seu estado de purificação e/ou austeridade interna. Já repararam que eles andam meio duros, como se de fato estivessem bem parafusados?
Afinal, concordam que esses tipos são autênticos representantes de parafusados juramentados?
Vejamos, agora, na outra ponta, exemplos de totais desparafusados. Penso nos biritados permanentes, que precisam de doses diárias pra colocarem, paradoxalmente, uns poucos parafusos no lugar. Aí, de fato, eles conseguem alcançar o seu estado verdadeiro, o desequilíbrio equilibrado, dá pra entender?
Também considero os chamados loucos oficiais os autênticos desparafusados porque chegaram ao máximo estágio de não precisarem se parafusar, verdadeiramente de encontro às regras da ordem estabelecida. Aliás, em alguns casos, o excesso de parafusos é que provocou a desparafusagem total.
Em outro extremo, vejo os tidos como marginais perigosos, que estão distribuídos em todas as categorias de delitos sociais. Estes propriamente nem têm parafuso nenhum, usam outro tipo de ajuste ou melhor dizendo, de desajuste na sua inserção social. Pudera! A escola necessária para sua atuação é a libertação de seus parafusos.
Situados os extremos, pensemos agora nos semiparafusados, aqueles que apresentam características mais interessantes e até charmosas desse desequilíbrio parafusal. Aqui há uma variedade imensa de tipos, a mais ou a menos. Por exemplo, alguém pode ser parafusado na cabeça e desparafusado no corpo, estes tipos são comuns entre os intelectuais, quer dizer são muito brilhantes de cabeça, mas o resto do corpo, uma tristeza: ruins de cama, cheios de sintomas de TOC, desprovidos de qualquer vaidade corpórea, descabelados e mal roupados, enfim, desequilibrados parafusalmente.
De outra ponta, temos os corpóreos radicais, aqueles que têm na massa física sua razão de viver. Pro corpo, tudo e pra cabeça, zero. Estes, penso, que até são mais felizes, não vêem a vida passar e neles os parafusos faltantes são de difícil aquisição porque o cérebro se esqueceu de fabricá-los.
Temos também o tipo sexual desparafusado, são os considerados desencaminhados sociais. Destes, alguns remam contra a maré, seja porque não vivem sem aquilo, são os tarados, ninfos de todo tipo; seja porque vivem o que não é afeto à ordem sexual instituída. No meio desses, há uma característica interessante: eles despertam atração e medo, talvez os enquadrados socialmente saibam lá no fundo, que “de perto, ninguém é normal” ao que eu acrescentaria: nem no escurinho do quarto...rsrs.
Há também os desparafusados mais destacados ou invejados socialmente, são os artistas, os gênios e criadores, em geral. Neles, o parafuso seria um entrave à sua criação e desempenho. Eles, por assim dizer, nem conhecem bem o que se configura como parafuso, tal a sua falta de prática com este senhor enquadrador. São uns felizardos e nos ajudam a suportar alguns parafusos impostos a nós, que não conseguimos arrancar.
Por fim, ressalto um tipo intermediário, aqueles que funcionam à base de parafusos entortados. Aqui entram os superalguma coisa: os superacelerados, os superchatos, os supergrudentos, os superbabacas e por aí vai, todos aqueles que perturbam nosso santo dia. Estes não têm conserto porque são parafusos genéticos, se tirar algum deles, os ditos morrem.
A partir desse panorama, cada um poderá fazer sua avaliação valorativa de cada um desses grupos e se identificar/encaixar em um deles.
É possível, então, que vocês concluam que este pode não ser apenas um texto despretensioso de uma cronista semiparafusada, mas que faz indicações reais de vidas aprisionadas/empobrecidas ou a adoção de uma vida mais libertária, leve e solta, a partir do uso, mais ou menos, de parafusos sociais.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

QUANDO SE PERDE ALGUÉM MUITO QUERIDO

Para Mônica

No sábado passado, dia 18, perdemos do nosso convívio nossa querida Mônica, sem ao menos nos avisar que estava a caminho da sua última morada. Ficamos todos meio desnorteados com sua partida antes da hora. Ainda tínhamos esperança que ela demoraria um bom tempo antes dessa viagem compulsória, guerreira como sempre foi nesta vida.
Nesses momentos de rito de passagem, nossos sentimentos são confusos, mas apesar de manifestações diferenciadas, há um ponto que nos unifica, que são as nossas dúvidas em torno da existência humana. Indistintamente ficamos todos mexidos, tocados, cheios de dúvidas, com um medo inexplicável, obscuro. Medo que se metamorfoseia em indagações sem respostas frente à morte. Os que crêem noutra existência, e mesmo os que se acreditam incrédulos, ateus, todos ficam balançados, sentem um arrepio concreto. Seja porque estão vivenciando tal situação pela primeira vez, seja porque já passaram por ela antes, mas principalmente porque cada um de nós fica pensando que vai chegar a sua hora. E ninguém, absolutamente ninguém na face da terra, pôde até hoje precisar quando, onde e nem como será essa nossa viagem compulsória individual. Eis o grande mistério. Pra sempre.
Perder alguém que se ama é muito duro e, se for pra sempre, é uma dor aguda, aquela que nos atinge feito punhal rasgando nossas entranhas. É assim que se sentem a mãe e o pai ao perder um filho, dizem que não há dor igual; dor próxima é a perda da mãe e do pai e de irmãos, nesta ordem. Trata-se de doação de vida e de entranhas, o que não se iguala a nada que se possa sentir. Depois, todas as demais dores se entrelaçam: a perda de um amor, de um parente, de um amigo.
Dizemos pra nos consolar: esse corpo que se vai é apenas matéria, essa pessoa habitará nossos corações para sempre. É verdade. No entanto, sabemos que faz diferença a ausência física, o quanto machuca a crua consciência de que nunca mais vamos poder ver aquela pessoa amada, escutar sua voz, trocar confidências, tomar uns porres juntos, jogar conversa fora, pedir conselhos e até vivenciar umas briguinhas ocasionais. Esse é o lado doído e cruel dessa ruptura entre os seres humanos.
Ah! Jonas e Danilo, os filhos de nossa Mônica. Quanta falta sentirão da mãe querida, das suas recomendações sobre todas as coisas, desde as mais banais: “vá com outra roupa, não deixe de comer antes de sair, cuidado na rua, não chegue muito tarde, dê notícias, como foi seu dia, eu te amo...” Que saudades! Que dor injusta!.
A verdade crua e nua nos bate na cara: o sentido real e sem máscara da palavra NUNCA. Para um lado e para o outro. Nunca mais vou ver essa pessoa, nunca mais vou tê-la ao meu lado, a gente pensa.
Quanto à Mônica, o que não vamos nunca esquecer é da sua coragem, sua correção, sua dedicação às pessoas que amava, do seu belo caráter, enfim, da sua inteireza em toda sua vida .
A nós todos, neste momento, resta como grande consolo o legado que ela nos deixou na sua curta existência: a qualidade de sua presença e o amor solidário que dispensou a cada um de nós.
Vá em paz, Mônica! E tenha o repouso eterno, cheio de luzes e cores, como você gostava.

sábado, 11 de outubro de 2008

OTIMISMO OU PESSIMISMO – UMA QUESTÃO PARA POLEMIZAR

Muito se fala sobre otimismo ou pessimismo, com uma visão muitas vezes equivocada, como se as posições sobre as situações da vida pudessem ser reduzidas a esse binômio. Pois bem, vou lhes contar um episódio que marcou definitivamente minha posição a respeito dessa questão.
Alguns anos atrás, assisti a uma entrevista com o grande escritor português José Saramago no programa Roda Viva do Canal TV Brasil. Ao lhe perguntarem qual era seu partido político, Saramago respondeu: ” sou do PCB”. Um dos entrevistadores afirmou: “é o que eu pensava, você é do Partido Comunista Português”. Saramago disse: não me refiro a esse partido, sou do Partido dos Cidadãos Preocupados”. Foi aquela risada geral. Saramago em tom solene explicou : “falo sério, é um partido de verdade, ele tem como referência principal o pessimismo”. De novo, foi uma surpresa pra todos ali, questionaram a negatividade do pessimismo e outros tais. Daí o escritor arrematou: “vocês estão enganados, o pessimismo não é negativo, penso que o que muda o mundo é a visão pessimista, pois os seus adeptos correm atrás das soluções, enquanto os otimistas acreditam que tudo está bem ou vai ficar bem e, em grande medida, acionam seus canais de mudança com lentidão ou acabam por se acomodar. Os pessimistas, não, eles arregaçam as mangas e vão à luta, porque sabem que o centro de referência e orientação é a realidade nua e crua, sem ilusões de mudanças mágicas. Portanto, são os pessimistas que, de fato, provocam as mudanças”. Desde, então, tornei-me uma adepta do PCB do Saramago.
A partir dessa premissa defendida por esse ícone da literatura, vou caminhar um pouco nessa direção. A meu juízo, faz todo sentido esse pessimismo da razão, como diria o pensador italiano Antonio Gramsci, pois o mesmo pode levar com mais eficácia à nossa indignação com a realidade (re)conhecida, impulsionando a vontade para transformá-la, somando com o lado otimista, numa real dialética. Do meu ponto de vista, a dosagem dos otimistas não tem a mesma força que a dos pessimistas pra arregaçar as mangas e ir à luta.
Também pode ser que eu tenha uma certa implicância com essa história de otimista ser o bom, o simpático e pessimista o ruim, o rabugento. Sem falar que há casos de uma relação direta entre otimismo e alienação.Com todo respeito! Sei lá! Enfim, esta minha rabugice fica por conta de eu ser uma mulher mais noturna e menos solar, apesar de leonina. Afinal, funciono mais à noite, de manhã gosto mesmo é de dormir.
Portanto, tudo é uma questão de visão das coisas, que inclui muitos ingredientes que movem o mundo, que mudam a cabeça das pessoas, que apontam outros horizontes, que sinalizam a esperança de uma vida melhor.
Ao final desses meus considerandos, pergunto a vocês: dá pra ser otimista diante dessa atual e alucinante crise capitalista? Não será por uma considerável dose de pessimismo, embalada pelo desespero, que poderá haver alguma saída para todos nós, pobres mortais?

sábado, 4 de outubro de 2008

ESPERANÇA EM QUÊ? EM QUEM? EIS O DILEMA

Já contei pra vocês aqui, em uma crônica passada, das minhas andanças pelo terreno católico onde fui até filha de Maria, mas isso foi há séculos, quando era adolescente. Aí não me esqueci da doutrina dessa religião, sobretudo em alguns pontos centrais.Por exemplo, a questão das virtudes e dos vícios. As virtudes são uma espécie de ferramenta sobrenatural, que nos ajudam a praticar o bem, elas seriam algo mais abstrato, de ligação mais direta com Deus e seus agregados. Nós as recebemos, pela primeira vez, na hora do Batismo e as perdemos ao cometer pecados graves, que são reabilitadas pelo sacramento da confissão. É por não praticarmos atos de virtude que acabamos adquirindo na alma uma força má, que é o contrário da virtude, o chamado vício.
Não me perguntem o porquê de algumas pessoas, que não são católicas e, portanto, não são batizadas, terem algumas virtudes cristãs. Não sei explicar, não tenho a menor idéia. Talvez isso faça parte daqueles furos que têm todas as religiões.
Existem virtudes que são nobres, que nos levam a conhecer e amar a Deus - são as virtudes teologais, a Fé, a Esperança e a Caridade. Mas existem muitas outras virtudes que nos levam a agir corretamente, como é o caso das chamadas virtudes cardeais: Prudência, Justiça, Força e Temperança.
Cá pra nós, essa minha aulinha está parecendo uma cantada pra vocês se converterem, uma espécie de recaída minha nos braços do catolicismo. Ledo engano, queridos. Já estou em braços afrodescendentes, como simpatizante, por pura necessidade existencial, digamos assim. Mas vocês devem estar se perguntando: por que, cargas d´ água, esse papo um tanto quanto esquisito, tratando-se desse público leitor do Blogorodó, cheio de hereges juramentados? Respondo rápido. Não tem nada a ver com religião. Apenas foi um longo intróito, pra encher linguiça. Coisas de cronista.
A virtude da Esperança tem um lugar especial nesses últimos tempos, em particular no domingo, dia 5 agora de outubro, dia de eleição pra prefeito e vereador. Não faz sentido? Afinal, quando se vota, supõe-se haver uma certa dose de esperança, no mínimo. Como votar pra prefeito, o nosso síndico citatino, se não acreditarmos que vai melhorar nossa cidade, nossas relações de cidadania? Aí que a vaca torce o rabo. Eu, por exemplo, estou desprovida de qualquer dosagem da virtude esperança. Não acredito mais em nada, estou brigada com a política, com as possibilidades do bem-estar-social local, regional, nacional, internacional e planetário. Como votar? Mas ao mesmo tempo o meu passado devoto dessa virtude esperançosa, fica me soprando: como votar nulo? vote no Gabeira, ele é um cara sério e honrado, até já seqüestrou embaixador financeiro, digo americano, só isso o faz merecedor de seu voto.
Vejam o meu dilema. Pudera! O Rio de Janeiro vive um longo processo de Atração Fatal por maus governantes, com rara exceção, é um atrás do outro, em todos os níveis, virou um vício fluminense desprovido de qualquer charme. Vejam agora nessa eleição pra prefeito, se o Gabeira não for pra segundo turno, restará aos cariocas o triste destino de escolher entre o Diabo e o Capeta. Não merecíamos esse castigo. Só pode ser penitência pra purificação das nossas sofridas almas.

sábado, 27 de setembro de 2008

POEMAS / LETRAS DE MÚSICAS

SE EU FOSSE

Se eu fosse um poeta
Eu lhe diria coisas bonitas
Várias vezes ao dia
Mas como não sou
Apenas lhe digo
Coisas banais

Se eu fosse um músico
Faria para você uma melodia
Com a mais bela harmonia
Mas como não sou
Apenas lhe canto
Uma canção qualquer de amor

Se eu fosse um escritor
Faria o mais belo romance
E você seria a personagem principal
Mas como não sou
Apenas lhe conto
Uma história de amor


LUGAR ALGUM

Não sei se vou
Nem pra onde
Tampouco como vou
Só sei que quero ir
Para lugar nenhum
Onde nem eu me alcance

Também não sei
Se quero mesmo ir

Minha cabeça
navega envolta
Em pensamentos contrários
Entre o que sou
O que fui
O que poderia ter sido
O que ainda posso ser
Em algum lugar de mim


ESSE AMOR

Esse amor me pegou de surpresa
Em tempos distantes
E deu rumo ao meu viver errante
Esse amor pleno
É Sol e Plutão
É riso e lágrima em confronto
É amor amigo
Intempestivo e aconchegante
É amor do passado e do presente
Que se fez pra sempre
Em amanhã contínuo


ONDAS LÁGRIMAS

Ondas gigantes me ameaçam
E me atraem
Torrente líquida
Sobre mim, sobre nós
Enquanto em pensamento
Sua majestade, sua presença
Me invadem, me cobrem a alma
Inundam meu ser
E absorvem as lágrimas
Derramadas dentro de mim
E sorvem a minha saudade
Em ebulição


sexta-feira, 12 de setembro de 2008

ZILMINHA DO JEGUE

Minha mãe, que Deus a tenha, era uma grande contadora de histórias, um dom especial que ela tinha. Nós, os seus filhos, ouvimos mil vezes suas histórias sobre a nossa infância, que pedíamos que ela contasse novamente aquelas que mais gostávamos, sempre que havia alguma reunião de família. Ela, como é de praxe entre pessoas dotadas desse dom, não se fazia de rogada, gostava mesmo era de se exibir e, cada vez que repetia cada história, ela acrescentava uns toques novos, o que nos deleitava mais ainda. Ao longo do tempo, seus ouvintes foram se ampliando entre os amigos de seus filhos. Uma das minhas histórias prediletas era a do cavalo, que ela montou numa longa viagem, amparada por aqueles empregados, uma espécie de acompanhantes de viagem no interior do Maranhão. Essa foi uma viagem de mudança e ela teve que levar consigo eu e meu irmão mais velho, de Grajaú, minha terra natal, para Barra do Corda, município vizinho, onde residiríamos, e lá já se encontrava meu pai, que era funcionário público federal na função que equivale hoje a fiscal de rendas, e por conta desse cargo, volta e meia mudava de cidade.
Ela contava que nessa montaria do cavalo tinha caído muitas vezes no percurso da viagem, chegando toda moída ao final dessa penosa travessia. Só que essa narrativa era recheada de acontecimentos divertidos que ela sabia nos presentear com muito humor.
Certa vez, uma amiga de Recife que veio ao Rio, foi comigo visitar a minha mãe, e como sempre, rolaram várias histórias, entre elas a do cavalo. Ao final, disse minha amiga:
- D. Zilma, acho que não era cavalo não esse animal de sua viagem, pra senhora cair tantas vezes, só podia ser um jegue, que por ser baixinho, suas quedas não lhe arrebentaram de vez.
Minha mãe, meio marota, disse :
-Ora, ora, eu passei a vida toda achando que era um cavalo, mas pensando bem acho que era mesmo um jegue. E caiu na gargalhada.
Daí pra frente, minha amiga, que é uma grande gozadora, pôs o apelido na mamãe de Zilminha do jegue.
Passados treze anos desse episódio, essa mesma amiga mandou, de Recife, um presente pra Maria Vitória, um bebê que agora estamos adotando. Ao abrir o pacote, deparei-me com um bichinho lindo de pelúcia, e exclamei:
- Nossa, que cachorro bonito, que raça será a dele?
Chamei minha secretária, que é uma cearense, e perguntei-lhe:
- Que cachorro é esse?
Ela, toda metida, certa de sua resposta, respondeu:
- Não sei não, mas que é um cachorro bonito isso ele é.
Duas horas depois, chegou minha irmã em minha casa e ao lhe mostrar o presente, ela exclamou:
- Não acredito! Como aquela danada foi conseguir justo um jegue pra mandar de presente? Só mesmo no nordeste, pra se achar um bichinho desses.
E eu fiquei com cara de tacho, como se diz por aquelas bandas, pois o mesmo tinha sela, crina e cabresto, jamais poderia ser um cachorro!!!.