Aparentemente, Segunda Vida é uma nominação, sem maiores conseqüências para qualquer tipo de abordagem: aspiração, consideração, análise, adesão, rejeição, enfim, seja lá o que for.
Mas, quando se trata da chamada Second Life, os tais programas de computador que buscam reproduzir a vida real, sob o desejo de novas identidades que não a verdadeira, aí a coisa muda de figura.
Trata-se de um remédio para ludibriar a identidade rejeitada e a solidão aguçada. Ainda que sob um patrocínio mecânico.
Quando alguém se veste via programa eletrônico de uma outra vida que não a sua, a real, pra fugir dessa realidade e assumir uma identidade fictícia, muitas interpretações podem ser postas em ação.
Essa invenção tem muitas implicações e hoje alcança uma enorme expansão em vários tipos de público e instituições, inclusive empresas. Daí requer o desvelamento dos seus múltiplos significados e o conhecimento adequado dos seus mecanismos de funcionamento.
Sob meu juízo, esta criação tem uma leitura delicada e dramática
Delicada, porque trata-se de buscar via ferramenta disponível, on-line, um mecanismo para suportar a realidade indesejável, para colocar em cena uma vida desejável, uma identidade sonhada.
Dramática, porque a opção por uma máquina para atender nossos desejos e frustrações no lugar de relações humanas reais, concretas, verdadeiras, é algo que deprime as possibilidades do potencial humano de ser mais.
O que isto representa, não tenho a pretensão de explicar. Mas, podem-se fazer ilações a respeito. Talvez a incapacidade atual de relacionamento humano seja a principal explicação. Incapacidade frente à vida moderna que se deteriorou com o crescimento assustador das complexidades da vida, de tecnologias, de mil solicitações e escolhas a fazer a cada hora (o imperialismo do consumo).
Tudo isso junto saturou o homem moderno que não foi capaz de dar conta das mil possibilidades de vida a seu dispor. Daí o refúgio na máquina, na tela, no faz-de-conta, que traz aquele produto sob encomenda de seu desejo e necessidade imediata.O que resulta na felicidade virtual, fugaz, mas, aquela possível de se ter nessa vida real.