Hoje estou em paragens sombrias, manifestando-se em mim um outro lado meu, talvez o Lado D, de desilusão total. O meu sentimento é de muita tristeza e de desgosto comigo, com meus semelhantes, em relação à degradação contínua de nossas relações, dessas relações tidas como humanas. Ainda, pra combinar com o meu estado, chove muito e faz frio, depois de muito tempo, nesta cidade que teima em ser maravilhosa.
Será que estou exagerando? Ao final deste texto, por favor, me digam.
Vocês também identificam no dia a dia, sobretudo, no ambiente do trabalho, relações cada vez mais frias, distantes, individualistas, sem solidariedade? Já lhes aconteceu de saberem, de chofre, que uma colega de trabalho, faleceu há mais de um mês e vocês nem sabiam que ela estava prestes a nos deixar? Ou, que um outro colega, dos mais antigos, perdeu sua companheira de muitos anos, sem que vocês também soubessem que tal pessoa estivesse doente a esse ponto? Quase ninguém soube à época das mortes. Que coisa horrível! Que vergonha deveríamos sentir de coisas desse tipo acontecerem perto de nós e de, a um passo, poderem também ocorrer conosco.
Hão de convir que fatos como esses são muito graves e estão pipocando por aí, talvez em todos os lugares, de alguma forma, como sintomas graves de nosso fracasso como seres ditos humanos, como resultante de mil razões que nós os ditos intelectuais, defensores dos desvalidos e oprimidos, nos arrolamos o papel de especialistas em diagnosticá-las.
Uma questão séria são as chances de se viabilizar um projeto ético-político X ou Y se os seus atores enfrentam sérios empecilhos na convivência no trabalho, cuja existência dos mesmos não é de sua inteira responsabilidade, é verdade, mas o seu enfrentamento é, sim, da sua alçada, no mínimo, amenizando essas dificuldades para se proteger contra esse tipo de mundo atual. Como disseminar a mensagem da transformação social, se nesta devem fazer parte, necessariamente, os ingredientes da solidariedade, da compaixão, do interesse pela vida do outro, se ele está bem ou não, se no caso, não está, literalmente, às voltas com a morte, o contraponto, afinal, daquilo que consideramos o bem maior, a Vida? Como, meus amigos, transformar o mundo, esse tal mundo destruidor da vida de milhões, se dentro de nós, à nossa volta, não cultivarmos sentimentos germinadores desse amor maior pelas multidões? Como será possível?
Pra amenizar um pouco o tom da minha dor interna, deixem eu lhes contar um fato que, de outro prisma, ilustra bem a degradação das condições materiais de existência, e que também vivi no trabalho, ou melhor, num banheiro do meu local de trabalho. Como o sabonete é um produto absolutamente indisponível em instituições do tipo e, como gosto de lavar as mãos com tal produto, resolvi há uns tempos atrás, levar um sabonete de tamanho normal pra durar mais, já que levava sempre aqueles pequenos que guardava dos hotéis, com tal finalidade. Eis que ao retornar ao mesmo banheiro, umas duas horas depois, cadê o sabonete? Cheguei a duvidar da minha memória, uma estratégia nada fora de cogitação porque ando mesmo meio desmemoriada, que até pode ser um jeito de agüentar esse viver. Mas, uma semana depois, levei outro sabonete do mesmo tamanho e não é que aconteceu o mesmo sumiço. Não precisamos fazer nenhuma análise, não é mesmo?
Frente a esses episódios, não sei o que fazer.Vocês podem me ajudar?
A verdade, meus caros, é que os corredores institucionais em nada se diferenciam das calçadas das ruas das cidades grandes, eles se transformaram em passarelas de uma sala pra outra, onde as pessoas que trabalham naquele local, algumas que até já foram muito amigas, se cruzam, emitem ( ou não) um cumprimento formal, inaudível, e seguem adiante...como se fosse um ato super natural. Não vou aparecer aqui como diferente, eu não tenho vontade de falar com ninguém dessa maneira, é melhor que não nos falemos mesmo.
Mas, vou confessar pra vocês uma verdade interna: eu sofro com isso, eu me sinto mal. Ingenuamente, numa luta interna de crença/descrença, talvez ainda pense ou me esforce pra pensar como Brecht: ”que nunca se diga isso é natural”...
Será que estou exagerando? Ao final deste texto, por favor, me digam.
Vocês também identificam no dia a dia, sobretudo, no ambiente do trabalho, relações cada vez mais frias, distantes, individualistas, sem solidariedade? Já lhes aconteceu de saberem, de chofre, que uma colega de trabalho, faleceu há mais de um mês e vocês nem sabiam que ela estava prestes a nos deixar? Ou, que um outro colega, dos mais antigos, perdeu sua companheira de muitos anos, sem que vocês também soubessem que tal pessoa estivesse doente a esse ponto? Quase ninguém soube à época das mortes. Que coisa horrível! Que vergonha deveríamos sentir de coisas desse tipo acontecerem perto de nós e de, a um passo, poderem também ocorrer conosco.
Hão de convir que fatos como esses são muito graves e estão pipocando por aí, talvez em todos os lugares, de alguma forma, como sintomas graves de nosso fracasso como seres ditos humanos, como resultante de mil razões que nós os ditos intelectuais, defensores dos desvalidos e oprimidos, nos arrolamos o papel de especialistas em diagnosticá-las.
Uma questão séria são as chances de se viabilizar um projeto ético-político X ou Y se os seus atores enfrentam sérios empecilhos na convivência no trabalho, cuja existência dos mesmos não é de sua inteira responsabilidade, é verdade, mas o seu enfrentamento é, sim, da sua alçada, no mínimo, amenizando essas dificuldades para se proteger contra esse tipo de mundo atual. Como disseminar a mensagem da transformação social, se nesta devem fazer parte, necessariamente, os ingredientes da solidariedade, da compaixão, do interesse pela vida do outro, se ele está bem ou não, se no caso, não está, literalmente, às voltas com a morte, o contraponto, afinal, daquilo que consideramos o bem maior, a Vida? Como, meus amigos, transformar o mundo, esse tal mundo destruidor da vida de milhões, se dentro de nós, à nossa volta, não cultivarmos sentimentos germinadores desse amor maior pelas multidões? Como será possível?
Pra amenizar um pouco o tom da minha dor interna, deixem eu lhes contar um fato que, de outro prisma, ilustra bem a degradação das condições materiais de existência, e que também vivi no trabalho, ou melhor, num banheiro do meu local de trabalho. Como o sabonete é um produto absolutamente indisponível em instituições do tipo e, como gosto de lavar as mãos com tal produto, resolvi há uns tempos atrás, levar um sabonete de tamanho normal pra durar mais, já que levava sempre aqueles pequenos que guardava dos hotéis, com tal finalidade. Eis que ao retornar ao mesmo banheiro, umas duas horas depois, cadê o sabonete? Cheguei a duvidar da minha memória, uma estratégia nada fora de cogitação porque ando mesmo meio desmemoriada, que até pode ser um jeito de agüentar esse viver. Mas, uma semana depois, levei outro sabonete do mesmo tamanho e não é que aconteceu o mesmo sumiço. Não precisamos fazer nenhuma análise, não é mesmo?
Frente a esses episódios, não sei o que fazer.Vocês podem me ajudar?
A verdade, meus caros, é que os corredores institucionais em nada se diferenciam das calçadas das ruas das cidades grandes, eles se transformaram em passarelas de uma sala pra outra, onde as pessoas que trabalham naquele local, algumas que até já foram muito amigas, se cruzam, emitem ( ou não) um cumprimento formal, inaudível, e seguem adiante...como se fosse um ato super natural. Não vou aparecer aqui como diferente, eu não tenho vontade de falar com ninguém dessa maneira, é melhor que não nos falemos mesmo.
Mas, vou confessar pra vocês uma verdade interna: eu sofro com isso, eu me sinto mal. Ingenuamente, numa luta interna de crença/descrença, talvez ainda pense ou me esforce pra pensar como Brecht: ”que nunca se diga isso é natural”...