sábado, 23 de fevereiro de 2008

QUE PAÍS É ESTE ? SOMOS TODOS CORRUPTÍVEIS?

Penso que para conhecer e entender mais profundamente nosso país e nosso povo, é preciso vê-los como se fossem nossa infância, ao pé da letra. Vejam bem o que quero dizer: não é na infância que se forma nosso caráter? Não é nela que ficam as marcas mais arraigadas e que moldam nossa personalidade? Não precisamos ser psicanalistas pra termos essa compreensão. É apenas uma questão de melhor conhecimento de nossa história.
Olhem, meus leitores, a culinária mais perfeita é a que mistura os ingredientes marxistas com os psicanalistas. Principalmente, pra explicar o passado de um povo, de um país, de uma pessoa. Atenção meus queridos amigos marxistas, sem preconceitos com esta afirmação! A vida é uma mistura mesmo, de tudo, queiramos ou não.
Mas, voltemos ao nosso passado, assunto que quero tratar agora, sobre a origem e formação de nosso país. Afinal, nós realmente sabemos quais são os reais traços constitutivos de nossa cara, de nossa cabeça, tronco e membros?
Olhem bem, pra chegar às respostas a essas perguntas, não tem muito segredo, não. Basta que recorramos à memória de nossa formação, só precisa que voltemos aos tempos coloniais, que nos debrucemos sobre os primeiros traços de manifestação de nosso caráter enquanto povo, às marcas que nos formaram e nos acompanham até os dias de hoje. É aqui que precisamos encarar de frente os nossos patrícios, os queridos ou não, portugueses da gema, os verdadeiros formadores de nossa nacionalidade brasileira. A começar, vamos lembrar ou reconhecer os reais motivos da vinda desses cabras pra nossas paragens e de sua efetiva contribuição pra nos fazer tal qual somos na atualidade.
A partir dessa introdução, para alguns de vocês ou para muitos, um tanto quanto fora de época e de propósito, vou lhes contar o que me motivou escrever essas mal traçadas linhas. No início da noite da última quinta feira, estava eu procurando na TV um noticiário, quando ao sintonizar determinado canal, as manchetes eram as de sempre: roubalheiras no setor chamado público. Desgostosa com tais informações tão repetidamente espalhadas pelo país inteiro, mudei de canal. Aí foi pior: o apresentador já estava relatando uma notícia sobre a tão famigerada corrupção nos rincões brasileiros. Pensei cá comigo, vou esperar esta notícia passar que talvez venha algo mais original. Eis que vieram mais três casos na mesma linha, um roubo aqui, uma falsificação ali, uma quadrilha acolá. Aliás, lugar comum. Não tive outra opção pro meu estômago já tão embrulhado: desliguei a TV e fiquei matutando a respeito.
Lembrei-me, a propósito, que cerca de uns dois anos, tive acesso a um ranking de honestidade em terras européias e latino-americanas. A Itália e alguns países co-irmãos continentais, entre eles, o Brasil e o Peru, estavam entre aqueles onde honestidade era uma habitante minoritária. Os paises escandinavos, ao contrário, figuravam entre os campeões de honestidade, tendo à frente a Dinamarca. No mesmo momento, veio à minha lembrança uma pesquisa, penso que realizada em 2006 pelo IBOPE, que apresentou como conclusão o índice de 70% de brasileiros situados no campo dos corruptos, corruptores ou corruptíveis. E vejam bem: corrupção encarada não apenas como roubar dinheiro público, mas ações, posturas, comportamentos do cotidiano que espelhavam o nosso caráter desonesto frente às nossas ações do cotidiano. Desde furar filas, solicitar privilégios, aceitar favorecimentos ilícitos ou não, dar propina, enfim, a famosa lei do Gerson: tirar vantagem em tudo.
Daí, meus caros, fiz a conexão com o período colonial e lá tudo isso estava posto: a relação com o chamado bem público, a privatização do Estado a serviço do favorecimento do privado, todas essas coisa que aqui estão até o presente.
Fiquei pensando se essa é realmente a feição dos países onde o Estado foi criado antes da sociedade civil e esta se amoldou ao mesmo, como no caso brasileiro. Diferentemente de países onde foi a sociedade que constituiu o Estado e este foi desenhado de uma maneira mais propícia ao controle social. Ou então, o ser humano como espécie é corruptível geneticamente? A corrupção não está em todos os rincões e conformações humanas: religião, política, profissões, em todas as ações humanas? A condição corrupta não será apenas uma questão de oportunidade, de proximidade com as possibilidades de “acesso” aos bens públicos, aos privados bens de outrem?
Seja o que for, o meu sentimento é de total desconfiança com a possibilidade de mudança nesse terreno. E não me venham com essa conversa pra boi dormir que os políticos profissionais é que são os corruptos, como se eles não fossem parte do povo. Ou ainda, como se o povo ao eleger costumeiros corruptos, não fosse tão corrupto quanto, ao certificar pelo voto a trajetória e interferência dos ditos cujos na ação pública de apropriação dos bens públicos. Ou o mais simples, como se a geradora de todo e qualquer corrupto não fosse a barriga do povo. Mesmo quando ela é uma barriga de aluguel.
Enfim, meus caros, falei bobagem? Ou o mais grave, falei alguma inverdade? Ou ainda, existe mesmo essa invencionice denominada de bens públicos?

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

A SEXUALIDADE DA SANTÍSSIMA TRINDADE – JÁ PENSARAM NISSO ?

A Santíssima Trindade, como sabemos, é um mistério.Três pessoas ou entidades numa só é assim que a Igreja Católica nos ensina, algo só aceito no terreno da fé. Há cerca de um ano, um pouco mais talvez, as meninas do Programa Saia Justa, do canal GNT da TV a cabo NET, discutiam a sexualidade de Deus e não chegando a um consenso a respeito, dada a complexidade dessa discussão, jogaram para seus leitores a tarefa de opinar a respeito.
De cara, fiquei interessada a respeito. Dias depois, numa fila de banco presenciei uma conversa entre duas amigas ao comentarem o tal programa:
- Sexo de Deus? Puxa vida, nunca pensei a respeito, sei lá. Se for só Deus, penso que Ele não tem sexo, é mesmo alguém assexuado.
- Da minha parte, concordo com você, alguém pra ter todo esse poder e essa moral intocável, só pode ser assexuado.Até porque o sexo pra Igreja Católica é algo proibitivo, pecaminoso, donde se conclui que ser assexuado é tudo de Bom.
- Quanto aos outros integrantes da Santíssima Trindade, você tem uma opinião?
- Perfeitamente. Jesus não é Deus feito homem? Então, nessa lógica, só pode ser o macho dessa trindade.
- Mesmo sendo ele filho do Espírito Santo?
- É uma explicação preconceituosa da Igreja. Por que não poderia Deus feito homem nascer da barriga de Maria, já que seria um homem como os demais terrenos?
- Não havia pensado nisso, mas faz todo sentido.O Cristo teve uma sexualidade, daí as fofocas envolvendo-o com Maria Madalena.
- Perfeita sua conclusão.Quanto ao Espírito Santo, essa entidade é confusa. Ao mesmo tempo que foi o autor da criação Jesus Cristo na barriga de Maria, Ele é conformado como uma pomba.
- Você sabe da onde veio essa ligação do Espírito Santo com pomba?
- Não tenho a menor idéia. Além do quê, por que o símbolo é uma pomba e não um pombo? A minha interpretação é que com ou sem essa intenção, foi criado o primeiro gay da era cristã, o Espírito Santo.Convenhamos que foi algo super avançado pra aquela época, em se tratando da Igreja Católica sempre tão conservadora em relação a costumes.
- Sem falar que há ainda a pomba gira.
- Mas, essa já é de outro departamento, de outra religião. Merece outro papo.
- Atenção Saias. Se liguem!

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

SONHOS, FANTASIAS, ILUSÕES - IMPERIOSAS NECESSIDADES FRENTE À VIDA REAL

Fico pensando o que seria de nós, esses complicados seres terrestres, se não tivéssemos ao nosso alcance esses escapismos deliciosos para nos ajudar frente à realidade crua e nua de nosso nem sempre santo dia. Ao mesmo tempo, imagino se todos os seres precisam, de fato, desses ajudantes. Será que as pessoas que amam a vida, incondicionalmente, precisam menos?
O que sei é que quanto mais vivo mais identifico formas cada vez mais criativas de fugir da vida real e fico fascinada com tais inovações que expressam a capacidade do homem de criar mecanismos, instrumentos e situações de auto defesa e proteção contra realidades insuportáveis ou, simplesmente, buscando ter mais prazer.
Chamo a atenção de vocês para o significado de afirmações de pessoas sensíveis e especiais do nosso planeta que trafegam no terreno dessas necessidades. A Arte, por exemplo, maravilhosa criação do homem, em suas múltiplas expressões, é uma espécie de fantasia maior. Um dos seus representantes, Fernando Pessoa, poeta iluminado, nos apontou que “a arte é uma confissão de que a vida não basta”. Nietzsche afirmou: ” temos a arte para que a verdade não nos destrua”. O sentido explícito e implícito dessas afirmações nos dá munição para uma bela viagem de interpretações.
A Religião é também uma manifestação poderosa nesse território, totalmente diversa da Arte. Nela identificamos variadas manifestações da substituição do nosso próprio significado do que chamamos vida através de seres do além, entes superiores ao homem, os deuses do Bem. Nesse caso, a fantasia atua no papel de proteção, de promessa, de compensação ao exercício do bem, de cura da alma, do sobrenatural. A Religião é um lenitivo extraordinariamente forte e, por vezes, pode produzir paradoxalmente a destruição da vida, em nome dos seres do Bem, como atestam as guerras religiosas em vários períodos históricos.
Acabamos de vivenciar mais uma passagem formal do calendário anual de outra manifestação ilusionista, focada especialmente nos ingredientes da alegria, da folia e do barulho inofensivo, expressões festivas cujo nome é Carnaval. Atuam como uma espécie de vacina coletiva para mais um enfretamento do resto do ano, abrigando um reservatório no atacado da dança e da cantoria com vestimentas fantasiosas, invólucro de pretensões em que vale tudo que se gostaria de ser e como expressão de brincadeira, de deboche, de ironia, de crítica social.
A Tecnologia opera como uma aliada das criações inteligentes, desenhando possibilidades maravilhosas e, por vezes, reveladoras do poder ilimitado na busca da superação do sofrimento e da insatisfação humana ou simplesmente de canais de simulações da felicidade. Do que pude conhecer até o momento, a Second Life, uma das criações mais recentes, é a mais original viagem nesse início do século XXI, como fantástica e até assustadora capacidade da invencionice humana. Este jogo da internet monta uma realidade virtual formada por ilhas que reproduzem cidades e assemelhados, onde pessoas reais tornam-se personagens e desfrutam de uma Segunda Vida. O Avatar, personagem vivente desse mundo virtual, é o nosso avesso, algo como alguém travestido de si mesmo.
O Avatar, meus caros, é produto de nossas mentes e coracões magoados com a vida real, de nosso cansaço com tentativas de ser feliz, do nosso mergulho inútil nos sonhos impossíveis abatidos pela crueza da realidade. Enfim, de nosso saco cheio com nossa vidinha de merda.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

O PICHADOR DA MADRUGADA

- O que houve? Por que está correndo assim?
- Deixe eu entrar, pelo amor de Deus. A polícia está vindo atrás de mim. Eles me viram pichando um prédio.
- Está bem, entre rápido.
- Então, é pichador?
- Sou.
- Por que faz isto?
- Pra agüentar essa vida chata que rola por aí.
- Por que logo pichação de prédios na madrugada? Não acha perigoso?
- Por isso mesmo, é divertido porque tem perigo no pedaço.
- E se a polícia te pegar, não tem medo de ser morto?
- Não sei, não penso nisso, atrapalha meu barato.
- Me fala desse barato de pichar. Como é isso?
- É massa. Ficar lá no alto das janelas dos bacanas e tacar o piche é dez. Fazer aqueles desenhos dá um frio maneiro no gargalo.
- Desenhos? O que vejo são garranchos sem nenhuma arte.
- Pra mim é bonito. É a minha arte, o que sei fazer.
- Mas, isso não tem um quê de ser uma vingancinha contra alguém ou alguma coisa? Por que não fazer essa arte no lugar adequado?
- Não sei não. Pode ser isso também. Quero fazer o que tenho vontade, sem ninguém me enchendo o saco, meu pai, minha mãe. Agora, se fosse fazer noutro lugar, não ia ter graça.
- Acho que te entendo.
- Pode parar aqui?
- Adeus. Boa sorte!
Eduardo seguiu em frente, com uma estranha emoção por conta do pichador.