sexta-feira, 28 de setembro de 2007

AMOR E PAIXÃO


Sempre haverá uma relação entre o Amor e a Paixão, estes dois sentimentos que habitam os corações dos humanos pelos séculos Amém. São sentimentos distintos e apesar da relação que têm entre si, na maioria absoluta das vezes, não estão lado a lado na mesma relação, digo: os mesmos seres portadores dos tais sentimentos. Não sei se me fiz entender neste momento. Mas, à medida que eles forem se revelando, isso ficará bem claro.
A paixão está no terreno dos sentimentos datados e o amor no lugar da perenidade. Traduzindo: ao amor está reservada a condição da longevidade, com direitos adquiridos, estabilidade, férias conjugais e a necessária dosagem de calmaria e serenidade. A paixão, ao contrário, é lugar das relações precárias, sujeitas à instabilidade, sem direitos permanentes, sob domínio das tempestades e do medo da ruptura.
Ao amor, cabe a prerrogativa da rotina da vida em comum, sem que a mesma implique, necessariamente, monotonia pré-datada. A paixão é território do desassossego, da agonia e do êxtase, da aflição e da incerteza.
O amor é lugar do aconchego, da troca de carinho e da cumplicidade .A paixão é pura adrenalina, de corpos em trepidação com fome de prazer contínuo.
Na paixão um olha pro outro. No amor, ambos olham na mesma direção.
No amor há companheirismo. Na paixão há companhia.
No amor confiança é alimento imprescindível. Na paixão dúvida é veneno desejável.
Amor é mar em calmaria. Paixão é vulcão em erupção.
Amor é pôr do sol. Paixão é madrugada.
Amor é bolero. Paixão é tango.
Paixão é vírus que se contrai. Amor é vacina contra a solidão.
Paixão é alimento. Amor é digestão.
Paixão é pressão alta. Amor é equilíbrio.
A paixão tem vida própria: começo, fim ou visita periódica. O amor quase sempre nasce das entranhas da paixão.

Enfim, o amor faz viver e vive-se de amor. A paixão pode matar e morre-se de paixão.
Ao final, apresentados com suas vestimentas esses nobres senhores dos mortais humanos, há que se perguntar: o amor e a paixão não podem mesmo se juntar em uma única emoção num mesmo humano?
Meus amigos, sinto ter que lembrá-los que tal ocorrência é raríssima, a vida nos revela que essa dupla carrega uma forte incompatibilidade genética. Quando a paixão vai embora do nosso corpo, é hora de o amor se instalar em nossa vida. Quando muito, a paixão poderá visitar, de tempos em tempos, o ninho do amor e fertilizar com seus fluidos ardentes a sua calmaria.
No entanto, ainda que saibamos dessa verdade, sonhamos todos, românticos ou não, com um sagrado desejo: que caia nos braços dos nossos carentes corações um Amor Apaixonado para sempre Amém!







sexta-feira, 21 de setembro de 2007

BEM ACOSTUMADA


Sempre impliquei com essa afirmação que volta e meia é feita por pessoas muito próximas – mãe, pai, irmãos, amores, amigos- quando se referem a coisas boas feitas a mim continuamente:
- Você foi muito mal acostumada, só quer saber de moleza!
Pergunto: se a ação é boa, como pode significar que eu tenha me acostumado mal? Ora, bolas! Trata-se, sim, de ter me acostumado bem. Mas, sem dúvida, mereço o troféu de Bem Acostumada em muitas coisas, ao longo de minha vida. Faz parte da minha natureza, não tem jeito mesmo!
Na minha adolescência, estudante na capital, quando ia passar as férias no interior, na casa dos meus pais, minha mãe mandava fazer todo santo dia, um franguinho assado, de minha inteira propriedade, resultado de seu cultivo particular, com ração especial, cheia de frescuras, em cercado próprio que tais cuidados exigiam para os franguinhos da Rose. Nem preciso dizer que tal operação doméstica provocava uma ciumeira nos meus irmãos.
Bem Acostumada, já adulta, outra manifestação dessa minha condição foi a exploração dos meus irmãos mais novos – Tião e Fafá – que realizavam todas as minhas operações burocráticas, pessoais e institucionais. Eu simplesmente não fazia nada. E, aqui em off, continuei anos a fio, em fase adultíssima, explorando os amores e as serviçais domésticas, com essas exigências de Bem Acostumada. Que posso fazer? Fui Mal Acostumada! Rs...
Mas, como tudo na vida tem seu reverso, eu paguei o ônus dessa condição. Fiquei totalmente dependente dessa tal Bem Acostumada vida. Ai de mim sem ela! Minha vida teria sido, ao que tudo indica, muito diferente.
Desaprendi coisas cotidianas tipo usar cartão de banco eletronicamente. Nas vezes em que não tem jeito e tenho que ir ao banco, acabo perdendo os cartões dentro das caixas eletrônicas, me atrapalhando com as senhas, essas coisas.
Resultado: sobra um trabalho danado a essa dependente Bem Acostumada: repor os cartões, ter que ir mais ao banco, trocar as senhas e que tais. Enfim, um castigo merecido.
De todo modo, apesar dos pesares, recomendo: se você tiver chance não abra mão de uma vidinha Bem Acostumada. É a exploração mais sem culpa das relações capitalistas. Corra atrás!

sexta-feira, 14 de setembro de 2007

FICAR... FICANDO...


Entre as modernidades das relações amorosas, aquela que podemos considerar uso contínuo é a chamada Ficar. Leia-se: relação fugaz, geralmente executada em bares, boates, festas e festinhas e inferninhos.
Ficar precisa ser descrito e melhor desvendada, deixando claro que não tenho nada contra esta prática sexual. Como pressuposto básico, há que se considerar que existem os Ficantes profissionais e os Ficantes ocasionais, quer dizer, os que exercem essa atividade por opção e aqueles que a praticam por uma circunstância qualquer ou simplesmente para viver uma experiência nova. Esta tipologia faz toda diferença.
Examinemos alguns ingredientes dessa atividade Ficar. Primeiramente: a vivência dos Ficantes é adequada a cada geração, o que implica, a formação de três grupos.O primeiro, de adolescentes e jovens, que se estende até os trinta anos. Aqui, Ficar é realmente fugaz, às vezes, fugacíssimo. Um requisito é a disposição para essa empreitada. Porque, minha gente, é preciso vigor físico e rápida recuperação. Afinal, Ficar é sempre uma novidade e esta implica em curiosidade para vivenciar essa atividade, de maneira completa. E curiosidade supõe exploração da novidade, o que pode levar ao risco da não saciedade, condição que requer competência atlética para recuperação rápida de uma noitada que pode se estender por mais um tempo. E não se esqueçam que nesse evento, a conversa apenas rola como detalhe.
O segundo grupo, o turma do meio, é a partir dos trinta até os cinqüenta anos. Nesta, a experiência de vida amorosa já começa a bagunçar o Ficar dos jovens. São algumas pequenas adaptações, alguns ajustes para confortar essa faixa etária nessa atividade.Tais apelos vão montando a transição do Ficar para o Ficando. Transição essa cheia de transversalidades. De início, não significa que o caráter fugaz deixa de ser a luz-guia mas, há reflexos de desejos de uma esticada sexual, o que para os Ficantes é traição à exigência de fugacidade.Traduzindo: pinta aquela vontadezinha de viver um Caso. Resultado: Ficando é um meio caminho entre o Ficar e o Caso.
Entre parêntesis: refiro-me ao Caso Rápido, aquele que tem como função principal atender aos apelos do já andarilho corpinho que afinal, só quer ter mais um pouquinho dos prazeres do Ficar. Em contrapartida, há o Caso Fixo que , no fundo, é uma espécie de namoro não assumido.
No último grupo, o pós cinqüenta, Ficar não é tão simples assim. Porque há muitos vícios corpóreos e emocionais além das armadilhas do terreno amoroso. Portanto, nessa turma etária, Ficar é continuamente carregado de pequenos Ais e Ah! chantagistas:
- Ah! Foi tão bom! Por que não repetir mais vezes e sem data pra acabar?
Se no outro travesseiro estiver um Ficante juramentado, do primeiro grupo, essa chantagem tem pouca chance. Mas, se esse alguém for da turma do meio, a minha hipótese é que nestas situações, vários entes praticantes do Ficar podem até pular (ou pulam com alguma freqüência) a etapa da transição, caindo direto nos braços do Caso Fixo. Porque, afinal, o que todos nós queremos, sejam Ficantes, Ficados, desiludidos, desanimados, abandonados, enferrujados,desesperados,insaciáveis,esperançosos,mal-amados, deslumbrados e alguns da última faixa dos Ficantes (derrubados e desconjuntados após uma Ficada), enfim, todos nós do Planeta Terra, carentes permanentes,o que queremos mesmo, é o Amor, “eterno enquanto dure”.






sexta-feira, 7 de setembro de 2007

AMIGOS E AMANTES



Hoje eu acordei querendo fazer uma homenagem a essas duas entidades da existência humana, os amigos e os amantes, necessidades permanentes do ser humano do planeta terra.
Alguém poderia viver sem se sentir amado ainda que por um único amigo? Não creio. Ao longo de minha vida, fiquei convencida que essa primeira entidade tem uma característica básica: são poucos e raros, aqueles que merecem ser chamados de amigos. Cada pessoa tem alguma forma particular de definir um amigo além daquelas usualmente feitas, que é a pessoa que nos ame incondicionalmente,que nos diga coisas que precisamos ouvir, sobretudo, que é com quem se pode contar em todas as horas, boas e, principalmente as más. A minha forma individual diz respeito não propriamente às palavras, ao que me é feito, mas a algo que sinto por dentro delas. Refiro-me ao que capto de verdadeiro sentimento nas palavras que são ditas e isto não tem fórmula nem se refere às coisas em si mesmas que o amigo oferece a você, mas ao que de mais profundo ele transmite energeticamente através das palavras e ações que nos oferece. Por exemplo, quando o amigo me pergunta como vai você, eu sinto o quão de dosagem de amor ele passa através de uma pergunta aparentemente banal e mecanicamente dita em todos os lugares do mundo. No entanto, o que ele me manda diretamente ao coração, somente eu vou sentir de maneira especial, como uma frase inventada naquele momento pra mim. Dá pra entender?
As demais palavras, ações ou até as omissões estão carregadas desse sentimento mágico que por amor identifico em tudo que o amigo me diz e faz e também até quando me magoa por alguma razão.
Quanto à outra entidade, os Amantes, eles são o complemento dos amigos e, em certa medida, dependendo deles, são o prolongamento dos amigos. O que é ser um amante? Pra mim, a função primordial do amante é preencher a necessidade de prazer do nosso corpinho sedento desse alimento natural, fazendo-o com emoção e uma certa taradice. Porque amante tem que ter uma dose considerável de loucura física, de desassossego carnal, caso contrário seria apenas um amigo que faz amor com a gente. Aliás, tenho uma conhecida que diz que os amigos também servem pra transar com a gente, porque ela pergunta: vamos transar com quem, com os inimigos? Claro que nessa eventualidade, ela se refere a alguém atender a uma carência e imperiosa necessidade de um amigo. Mas, isso é polêmico e é raro que funcione, uma vez que ser amante supõe tesão, ingrediente não presente costumeiramente nas amizades.
Na verdade, o ideal para mim é se pudéssemos juntar essas duas entidades maravilhosas numa só, o Amigo Amante. Não seria perfeito?