quarta-feira, 22 de outubro de 2008

QUANDO SE PERDE ALGUÉM MUITO QUERIDO

Para Mônica

No sábado passado, dia 18, perdemos do nosso convívio nossa querida Mônica, sem ao menos nos avisar que estava a caminho da sua última morada. Ficamos todos meio desnorteados com sua partida antes da hora. Ainda tínhamos esperança que ela demoraria um bom tempo antes dessa viagem compulsória, guerreira como sempre foi nesta vida.
Nesses momentos de rito de passagem, nossos sentimentos são confusos, mas apesar de manifestações diferenciadas, há um ponto que nos unifica, que são as nossas dúvidas em torno da existência humana. Indistintamente ficamos todos mexidos, tocados, cheios de dúvidas, com um medo inexplicável, obscuro. Medo que se metamorfoseia em indagações sem respostas frente à morte. Os que crêem noutra existência, e mesmo os que se acreditam incrédulos, ateus, todos ficam balançados, sentem um arrepio concreto. Seja porque estão vivenciando tal situação pela primeira vez, seja porque já passaram por ela antes, mas principalmente porque cada um de nós fica pensando que vai chegar a sua hora. E ninguém, absolutamente ninguém na face da terra, pôde até hoje precisar quando, onde e nem como será essa nossa viagem compulsória individual. Eis o grande mistério. Pra sempre.
Perder alguém que se ama é muito duro e, se for pra sempre, é uma dor aguda, aquela que nos atinge feito punhal rasgando nossas entranhas. É assim que se sentem a mãe e o pai ao perder um filho, dizem que não há dor igual; dor próxima é a perda da mãe e do pai e de irmãos, nesta ordem. Trata-se de doação de vida e de entranhas, o que não se iguala a nada que se possa sentir. Depois, todas as demais dores se entrelaçam: a perda de um amor, de um parente, de um amigo.
Dizemos pra nos consolar: esse corpo que se vai é apenas matéria, essa pessoa habitará nossos corações para sempre. É verdade. No entanto, sabemos que faz diferença a ausência física, o quanto machuca a crua consciência de que nunca mais vamos poder ver aquela pessoa amada, escutar sua voz, trocar confidências, tomar uns porres juntos, jogar conversa fora, pedir conselhos e até vivenciar umas briguinhas ocasionais. Esse é o lado doído e cruel dessa ruptura entre os seres humanos.
Ah! Jonas e Danilo, os filhos de nossa Mônica. Quanta falta sentirão da mãe querida, das suas recomendações sobre todas as coisas, desde as mais banais: “vá com outra roupa, não deixe de comer antes de sair, cuidado na rua, não chegue muito tarde, dê notícias, como foi seu dia, eu te amo...” Que saudades! Que dor injusta!.
A verdade crua e nua nos bate na cara: o sentido real e sem máscara da palavra NUNCA. Para um lado e para o outro. Nunca mais vou ver essa pessoa, nunca mais vou tê-la ao meu lado, a gente pensa.
Quanto à Mônica, o que não vamos nunca esquecer é da sua coragem, sua correção, sua dedicação às pessoas que amava, do seu belo caráter, enfim, da sua inteireza em toda sua vida .
A nós todos, neste momento, resta como grande consolo o legado que ela nos deixou na sua curta existência: a qualidade de sua presença e o amor solidário que dispensou a cada um de nós.
Vá em paz, Mônica! E tenha o repouso eterno, cheio de luzes e cores, como você gostava.

sábado, 11 de outubro de 2008

OTIMISMO OU PESSIMISMO – UMA QUESTÃO PARA POLEMIZAR

Muito se fala sobre otimismo ou pessimismo, com uma visão muitas vezes equivocada, como se as posições sobre as situações da vida pudessem ser reduzidas a esse binômio. Pois bem, vou lhes contar um episódio que marcou definitivamente minha posição a respeito dessa questão.
Alguns anos atrás, assisti a uma entrevista com o grande escritor português José Saramago no programa Roda Viva do Canal TV Brasil. Ao lhe perguntarem qual era seu partido político, Saramago respondeu: ” sou do PCB”. Um dos entrevistadores afirmou: “é o que eu pensava, você é do Partido Comunista Português”. Saramago disse: não me refiro a esse partido, sou do Partido dos Cidadãos Preocupados”. Foi aquela risada geral. Saramago em tom solene explicou : “falo sério, é um partido de verdade, ele tem como referência principal o pessimismo”. De novo, foi uma surpresa pra todos ali, questionaram a negatividade do pessimismo e outros tais. Daí o escritor arrematou: “vocês estão enganados, o pessimismo não é negativo, penso que o que muda o mundo é a visão pessimista, pois os seus adeptos correm atrás das soluções, enquanto os otimistas acreditam que tudo está bem ou vai ficar bem e, em grande medida, acionam seus canais de mudança com lentidão ou acabam por se acomodar. Os pessimistas, não, eles arregaçam as mangas e vão à luta, porque sabem que o centro de referência e orientação é a realidade nua e crua, sem ilusões de mudanças mágicas. Portanto, são os pessimistas que, de fato, provocam as mudanças”. Desde, então, tornei-me uma adepta do PCB do Saramago.
A partir dessa premissa defendida por esse ícone da literatura, vou caminhar um pouco nessa direção. A meu juízo, faz todo sentido esse pessimismo da razão, como diria o pensador italiano Antonio Gramsci, pois o mesmo pode levar com mais eficácia à nossa indignação com a realidade (re)conhecida, impulsionando a vontade para transformá-la, somando com o lado otimista, numa real dialética. Do meu ponto de vista, a dosagem dos otimistas não tem a mesma força que a dos pessimistas pra arregaçar as mangas e ir à luta.
Também pode ser que eu tenha uma certa implicância com essa história de otimista ser o bom, o simpático e pessimista o ruim, o rabugento. Sem falar que há casos de uma relação direta entre otimismo e alienação.Com todo respeito! Sei lá! Enfim, esta minha rabugice fica por conta de eu ser uma mulher mais noturna e menos solar, apesar de leonina. Afinal, funciono mais à noite, de manhã gosto mesmo é de dormir.
Portanto, tudo é uma questão de visão das coisas, que inclui muitos ingredientes que movem o mundo, que mudam a cabeça das pessoas, que apontam outros horizontes, que sinalizam a esperança de uma vida melhor.
Ao final desses meus considerandos, pergunto a vocês: dá pra ser otimista diante dessa atual e alucinante crise capitalista? Não será por uma considerável dose de pessimismo, embalada pelo desespero, que poderá haver alguma saída para todos nós, pobres mortais?

sábado, 4 de outubro de 2008

ESPERANÇA EM QUÊ? EM QUEM? EIS O DILEMA

Já contei pra vocês aqui, em uma crônica passada, das minhas andanças pelo terreno católico onde fui até filha de Maria, mas isso foi há séculos, quando era adolescente. Aí não me esqueci da doutrina dessa religião, sobretudo em alguns pontos centrais.Por exemplo, a questão das virtudes e dos vícios. As virtudes são uma espécie de ferramenta sobrenatural, que nos ajudam a praticar o bem, elas seriam algo mais abstrato, de ligação mais direta com Deus e seus agregados. Nós as recebemos, pela primeira vez, na hora do Batismo e as perdemos ao cometer pecados graves, que são reabilitadas pelo sacramento da confissão. É por não praticarmos atos de virtude que acabamos adquirindo na alma uma força má, que é o contrário da virtude, o chamado vício.
Não me perguntem o porquê de algumas pessoas, que não são católicas e, portanto, não são batizadas, terem algumas virtudes cristãs. Não sei explicar, não tenho a menor idéia. Talvez isso faça parte daqueles furos que têm todas as religiões.
Existem virtudes que são nobres, que nos levam a conhecer e amar a Deus - são as virtudes teologais, a Fé, a Esperança e a Caridade. Mas existem muitas outras virtudes que nos levam a agir corretamente, como é o caso das chamadas virtudes cardeais: Prudência, Justiça, Força e Temperança.
Cá pra nós, essa minha aulinha está parecendo uma cantada pra vocês se converterem, uma espécie de recaída minha nos braços do catolicismo. Ledo engano, queridos. Já estou em braços afrodescendentes, como simpatizante, por pura necessidade existencial, digamos assim. Mas vocês devem estar se perguntando: por que, cargas d´ água, esse papo um tanto quanto esquisito, tratando-se desse público leitor do Blogorodó, cheio de hereges juramentados? Respondo rápido. Não tem nada a ver com religião. Apenas foi um longo intróito, pra encher linguiça. Coisas de cronista.
A virtude da Esperança tem um lugar especial nesses últimos tempos, em particular no domingo, dia 5 agora de outubro, dia de eleição pra prefeito e vereador. Não faz sentido? Afinal, quando se vota, supõe-se haver uma certa dose de esperança, no mínimo. Como votar pra prefeito, o nosso síndico citatino, se não acreditarmos que vai melhorar nossa cidade, nossas relações de cidadania? Aí que a vaca torce o rabo. Eu, por exemplo, estou desprovida de qualquer dosagem da virtude esperança. Não acredito mais em nada, estou brigada com a política, com as possibilidades do bem-estar-social local, regional, nacional, internacional e planetário. Como votar? Mas ao mesmo tempo o meu passado devoto dessa virtude esperançosa, fica me soprando: como votar nulo? vote no Gabeira, ele é um cara sério e honrado, até já seqüestrou embaixador financeiro, digo americano, só isso o faz merecedor de seu voto.
Vejam o meu dilema. Pudera! O Rio de Janeiro vive um longo processo de Atração Fatal por maus governantes, com rara exceção, é um atrás do outro, em todos os níveis, virou um vício fluminense desprovido de qualquer charme. Vejam agora nessa eleição pra prefeito, se o Gabeira não for pra segundo turno, restará aos cariocas o triste destino de escolher entre o Diabo e o Capeta. Não merecíamos esse castigo. Só pode ser penitência pra purificação das nossas sofridas almas.