sexta-feira, 12 de outubro de 2007

SEDUÇÃO

A Sedução é um atributo ou qualidade intrínseca à pessoa que a possui. É da sua natureza, como se diz. Seduzir significa envolver, encantar, conquistar, atrair e, em ocasiões específicas, enganar.
Penso que há uma relação direta entre sedução e carisma, sendo este o seu núcleo central. Carisma, segundo um amigo da minha juventude, um orientador religioso, é um dom concedido pelo Espírito Santo. Sim, Ele mesmo, da Santíssima Trindade. Tal dom é atributo de um seleto grupo de seres mortais.
Portanto, meus caros amigos, sedução não se aprende na academia, nem nas escolas da vida. Ou se tem ou não se tem. Melhor assim. Ou não, como diria o nosso Caetano Veloso (aliás, a sedução em pessoa).
Os sedutores são pessoas poderosas, nos envolvem de muitas maneiras.
Neste espaço, tratarei da sedução sob três perspectivas que têm como foco, respectivamente, a auto-afirmação, o interesse específico e a conquista amorosa.
A primeira refere-se a um jeito de viver, de certas pessoas como resposta à sua auto-afirmação. Aqui sedução pode ser perigosamente destrutiva porque seduzir é um jogo para se sentir desejado pelo outro, sem representar um real interesse de constituir uma relação amorosa ou de qualquer outra natureza. Quem não conhece alguém assim?
Relacionada a essa modalidade sedutora, destaco a realização de uma pesquisa no Brasil, se não me engano na USP, que apontou um significativo índice de mulheres que preferem ser desejadas a ser amadas.
O outro tipo de sedução é aquela que tem como foco o interesse específico de conseguir algo com sua ação sedutora: a conquista de votos numa eleição; a venda de um produto; a conquista de adeptos à sua arte etc. Quem não comprou um objeto, sob o efeito da sedução comercial? Quem não deu seu voto a alguém ou a uma causa motivado pelo sedutor. Ou quem não ficou fã de um artista em função de sua sedução?
Também ressalto o fato de haver profissões mais relacionadas ou até mais dependentes da sedução, como marketing e as diversas modalidades de arte.
A terceira perspectiva, considero a mais interessante, a do terreno interpessoal, talvez aquela à qual somos mais vulneráveis. Nesta, os recursos são propriedades corpóreas, em especial, os olhos, a voz, o papo. Alguém discorda? Aquele olhar 43, aquela voz rouca ou manhosa, geralmente nos encantam de maneira fatal com tais faíscas eletrizantes e sonoridade vocal. Ou então, aquelas palavras ditas na hora certa com a entonação ao ponto que quase sempre nos atingem diretamente no coração. Ou, por vezes, acontece em regiões com vulnerabilidades mais calientes. Não é assim mesmo?
É claro que tais investidas visam atingir pessoas carentes, de relações amorosas insatisfeitas e similares. O certo é que quando nos damos conta já estamos definitivamente envolvidos. Perdidos para o bem ou para o mal. Quem saberá? Enfim, nessa ótica, a sedução é uma bebida que deve ser sorvida lentamente, em várias etapas, com doces doses do veneno da ilusão.
Mas, como tudo nessa vida terrena, a sedução tem o lado B, do ônus a pagar. Isto acontece quando tal dom, às vezes, funciona com força própria e independente e, noutras, contra a vontade do seu portador. Em tal hipótese, esse sujeito sedutor pode se encrencar e de algoz transformar-se em vítima do seduzido, que pode vir a ser uma pedra no seu caminho. Ou seja, o feitiço vira contra o feiticeiro. Enfim, ossos do ofício.
O que mais importa nessa arte da sedução é a gente admitir que os sedutores são hóspedes desejáveis. Porque tornam a vida deliciosamente atraente. Porque acalentam nossos múltiplos e erráticos desejos.
Afinal, quem não deseja ser seduzido por alguém e guarda, no mais íntimo de si, a ilusão de viver o tão sonhado amor?
E eu, o que fiz do começo ao fim desta crônica senão seduzir vocês, meus leitores, para se tornarem bem acostumados com o meu Blogorodó... rsrsrs.

6 comentários:

Anônimo disse...

Prezada Rose:
Resolvi ler todas as crônicas juntas. Isto porque estou com muito trabalhoe fui deixando para lê-las depois, quando desse uma brecha.Como só a conheço superficialmente, achei estranho o seu interesse por temas tão intimistas, referentes a afetos. Eu a via como uma pessoa que pensa muito mais o coletivo que o existencial.
Gostei do que li. Você escreve de forma muito clara. A linguagem é agradável.
Há ainda, na minha maneira de ver, um traço da escrita da cientista. Tudo muito explicado. Não dá para soltar mais a franga? Talvez uma certa irreverência trouxesse ao texto uma maior leveza. Bem, isto é uma questão de estilo. Achei
ótima a sua ousadia em colocar para amigos e conhecidos seu ponto de vista sobre pontos muito difíceis de se obter um certo consenso. Vá em frente!!!
Continui a me mandar seus escritos. Um beijo, Lúcia Neves

12/10/2007 20:29

Anônimo disse...

Da Rose que me lembro
Minha professora
Comprometida com direitos coletivos
Na defesa do direito coletivo a defesa do direito individual...
A Rose do BLOGORODÓ é outra Rose ...
O que mudou? Por que mudou? Você podia escrever uma crônica sobre isto: a Rose, minha professora, de, acho, 1977, e a Rose de 2007. A de 1977 me ensinou a confiar e lutar por ideias coletivos; a de 2007 é, ridiculamente, individualista.

Anônimo disse...

Rose,

Parece que os papos dos bares da vida migram rapidinho para as suas crônicas. Isso é ótimo porque nos leva a pensar nas coisas do cotidiano. So acho que as cronicas podiam ser mais curtinhas e com menos dois pontos, aspectos, etc....enfim, sem traços de uma linguagem acadêmica. Sugiro que você coloque mais flashes do cotidiano, tipo as conversas que escuta da mesa visinha, nos consultórios medicos, na fila do banco, do supermercado, etc. Explique menos...fica mais divertido.
Beijos,
Bete

Anônimo disse...

Querida Rose,

Nao me surpreendi com sua cronica que li hoje pela primeira vez! e vou ler as demais ainda! Isso porque, nao só na qualidade de ter sido sua orientanda e aluna, pois você sempre foi mais do que isso, ou seja, sempre me "encantou" ou me "seduziu" com a pessoa que voce naturalmente é: inteligentissima, como sempre achei, sensivel e muito critica!

Gostei muito do que li, achei um texto muito agradável, que me deu vontade de ler os seus outros textos!

Tb achei o texto bastante informativo e com senso de humor, que você mais do que nunca tem!

Voce é uma sedutora em pessoa! com professora, por exemplo que posso dizer, com sua forma de ser expontanea, critica e objetiva!

Agora eu penso uma coisa diferente:
Penso que existem pessoas que sao sedutoras "naturalmente", e outras que são "forçadas" por situações da vida, como por exemplo, citado por você, os que possuem algum por algum interesse/conveniência...Alguns até fazem cursos sobre...como a area de marketing...que você falou também...que na minha opniao é um tipo de sedução superficial e artificial, seria talvez um "pseudo-sedutor"....

Continue escrevendo! Alias te faço uma pergunta: porque já nao escrevia antes??? rs...

Bjs e aguardo mais crônicas suas!!!!

Maria Cecilia Mansur.

Anônimo disse...

Rose,
gostaria muito de ter o poder das palavras como você, para poder expressar o quanto gostei de tudo que li até agora nas suas crônicas. Surpreso! Sim, estou surpreso porque só hoje tive oportunidade de ler (todas) e me encantei. Mas, como não tenho o seu poder (das palavras), quero poder continuar fazendo parte do grupo dos Amigos, mesmo à distância ou sem poder/saber como chegar mais perto. Fazer parte desse grupo que você descreve tão bem: aquele que se sente com um abraço!
Parabéns e continue me seduzindo, por favor.
Um ABRAÇO FORTE, Jorge Augusto

Anônimo disse...

Oi, Rose:
Esse seu lado B tem a mesma forma de escrever do lado A. Sinto que o lado A continua muito presente. A racionalidade não a abandona.
Isso não é bom nem ruim... é apenas Rose Serra.
Beijo,
Regina