sábado, 12 de abril de 2008

DE FILHA DE MARIA A FILHA DE IANSÃ

Não tenho religião, mas aprecio a religiosidade e sou, digamos assim, espiritualista. Uma marxista espiritualista. Deu pra entender? Esta questão está sempre presente em minha vida como algo que me interessa enquanto um componente de estudo da Antropologia, e também como significado da religião na vida das pessoas ou expressão das emoções humanas.
De todas as religiões que pude conhecer ou ter contato com seus adeptos ao longo de minha vida, as de origem africana foram as que mais me sensibilizaram, penso que por conta de suas expressões e de seus rituais muito ligados à natureza, aspecto que me fascina em muitos territórios da vida.
No entanto, nem sempre pensei e senti dessa maneira. Séculos atrás, quando fazia o antigo ginásio em regime de internato, em colégio das freiras Dorotéias, irmandade muito chique da minha terra natal, o mesmo colégio onde estudou minha amiga Josefa Baptista Lopes, cheguei a ser filha de Maria, simbolizado numa fita azul em volta do pescoço, sinal de que eu prometia no futuro ascender nesse terreno religioso. Ao mesmo tempo, já apresentava os primeiros sinais de minha rebeldia, traço genético de minha personalidade. Implicava com alguns dogmas dessa religião. Por exemplo, a história de Cristo não ter nascido do ventre da Santa Virgem Maria e, sim, via Divino Espírito Santo, que vinha a ser uma pomba, assunto já abordado em crônica aqui, postada tempos atrás. Achava essa versão, no mínimo, um conto infantil. Também já me rebelava com a condição de castidade imposta aos padres, que não podiam se casar, soando aos meus adolescentes ouvidos como uma espécie de repressão sexual.
Tempos depois, já adulta, compreendi que aqueles sinais já anunciavam o meu futuro de transgressora bio-psico-social...e sexual ..rs.
Quando tive meu primeiro contato com a religião afro, eu achei um barato, aquele ritual alegre, as danças dos orixás, lindas e sensuais, aquele sentido de ajuda sem imposições, enfim, tudo isso me seduziu. Mas já lhes disse aqui nos meus escritos anteriormente que, à medida que vou vivendo, mais estou convicta que tudo é uma mistura geral, uma “metamorforse ambulante” , portanto, uma geléia ampla, geral e irrestrita. Quem não muda nada, já morreu, por dentro.
Mas, apesar dessa atração pela religião afro, não me filiei à mesma porque sou, de certa forma, meio como quê, infiliável, não gosto muito de ter que fazer isto ou aquilo, gosto da liberdade de aderir a, quando bem me der na telha. Daí, por vezes, vou a lugares onde a proposta é de sincretismo, uma mistura de catolicismo com espiritismo e com afro e com mais alguma coisa. Foi numa dessas minhas experiências que a Mãe de Santo de uma Casa dessa natureza aqui no Rio, deu a mim o sinal que eu sou Filha de Iansã, coisa aliás que eu já descobrira em outros paragens, já tinha lido sobre Iansã, a rainha dos ventos e tempestades, e me identificava com essa senhora orixá. Contudo, reitero, a minha ligação é pra ser do meu jeito, sem pré-requisitos e sem obrigações. Quando a Mãe de Santo referida completou, me dizendo: “você está pronta pra ser uma das nossas”, eu literalmente fugi, morrendo de medo das implicações dessa sinalização.
Penso que não sou chegada a ser uma religiosa formalmente, já pensaram eu atuando como integrante de um terreiro de umbanda, que prefiro à candomblé, aliás, não sei bem porquê, dançando, dando passe, tudo que implica essa religião, não me parece que levo muito jeito. Ou sim? O que vocês acham?

5 comentários:

Anônimo disse...

Embora não a conheça pessoalmente, não a imagino nem filha de Maria nem de Iansã. Talvez, filha do mundo. Se fôssemos íntimas, eu ousaria falar de outra filiação. Mas não me conhece suficientemente pra saber que uso palavrões como um recurso da linguagem coloquial, sem lhes atribuir o sentido convencional, por isso, fica só a insinuação, pois a filha a que me refiro pode tudo, quando e como quer, embora a sociedade nem sempre lhe faça justiça.Com ou sem religião, alguém ou algo a proteje, pois parece que saiu imune do convívio com as Dorotéias. Portanto, sob o manto de Maria ou de Iansã, que a vida lhe seja justa, companheira.

Anônimo disse...

No fundo todo mundo procura a religião,leia-se , a ligação com algo que não é um sentido material.(Coragem é assumir tal sentido na vida....)
Parabéns pelo texto e pela trajetória.
Há braços no mundo para viver com a ajuda do mundo espiritual!

Anônimo disse...

Conheço ou talvez re-conheça voce pessoalmente, meus olhos não conseguem ver , hoje, como uma filha de Maria, antes todas fomos, não por opção mas justamente por falta dela. Tamém me encantei com a coreografia, ritual, musicalidade e alegria da religiosidade africana, numa breve passagem pela Bahiam portanto minha opnião é tendenciosa e suspeita. Mas , parafraseando Caetano: Pq Não?

Anônimo disse...

Tenha prazer em suas boas aulas, que essa coceira passa!
Paulo

Unknown disse...

OI PROF°, SINCERAMENTE EU NÃO HÁ VEJO COMO FILHA DE MARIA, E PELO QUE PUDE LHE CONHECER VC TEM MUITO DE IANSÃ, MAIS EU TB CONCORDO QUE GOSTAR NÃO QUER DIZER SER OBRIGADA A PARTICIPAR.EU TB ADORO O CANDOMBLE, MAIS ISSO NÃO QUER DIZER QUE QUEIRA TER UM COMPROMISSO
COM ELE.BJS