sexta-feira, 30 de maio de 2008

ANOS REBELDES DOURADOS

1968 é ano de lembranças, balanços e saudades. Talvez a pergunta mais presente seja: - “O que foi feito de nós, geração 68?”
Quanto mais vivo, menos rebelde e mais serena vou ficando. Seria assim com todos nós, com todas as gerações? Também me pergunto se não existem mais jovens rebeldes como no passado.
É lugar comum entre as pessoas duas afirmações: a primeira, que não são saudosistas e a segunda, que não se arrependem de nada que fizeram. Eu desconfio de ambas. Eu, ao contrário, me proclamo assumidamente saudosista ao cubo e me arrependo ao quadrado, de muitas coisas do meu passado.
Hoje, falarei um pouco de minha geração. E na linha do Zuenir Ventura, apontarei marcas que ficaram daqueles anos rebeldes dourados porque envoltos em pura luz de sonhos e quereres juvenis.
Quando olho pra trás e me vejo nos anos sessenta, o que as emoções remexidas no tempo me sussurram aos ouvidos são sentimentos de fé, coragem e ousadia. A gente acreditava mesmo que poderia mudar o mundo. Havia dentro de nós a coragem pra enfrentar todos os dragões de nosso caminho. E a gente carregava na mente e nos corações a ousadia capaz de virar o mundo pelo avesso. Éramos encouraçados pela insensatez dos sonhadores.
Éramos, de fato, a geração brancaleone e nossos ídolos, de ferro e fogo, símbolos de paixão, sonhos e liberdade.
Esses jovens guerreiros conseguiram sacudir as estruturas apodrecidas, revolucionar os costumes, plantar as bases de nova sexualidade, colocar a mulher na rota de sua plena emancipação, sedimentar o chão dos novos arranjos familiares de hoje e, especialmente, cultivar o primado da ética e o germe da busca da liberdade. Esta, sim, foi o maior legado que os filhos dos anos sessenta deixaram.
Olho novamente pra trás e o quê vejo? Os de ontem, loucos, ingênuos, deslumbrados, apaixonados, generosos, lunáticos, audaciosos.
Os de hoje, muitos (ainda) loucos, desiludidos, desbundados, desesperados, destemperados, sobreviventes...
Os também de hoje, muitos desensonhados, desencaminhados, remodelados, reideologizados, burocratizados, travestidos...
Todos nós, perdidos no tempo, cercados de dragões de aço...

Um comentário:

Anônimo disse...

Recebi sua crônica e não podia deixar de fazer alguns comentários. É muito interessante poder vivenciar dois momentos com você. Um como sua aluna do mestrado e outro, como leitora das suas produções. Para minha surpreza, você ainda compõe letras musicais! É isso mesmo? Além de docente e escritora, também é musicista? Me identifiquei com várias coisas até porque também sou musicista. Sou professora de Educação Musical e posso afirmar que para continuar sendo uma assistente social minimamente " equilibrada" , não deixo meu vínculo com a arte, ou seja, com a música. Fiz formação acadêmica em canto/instrumento, além de ter cursado musicoterapia. Nunca exerci a musicoterapia, mas o canto... Participei de alguns conjuntos vocais, inclusive da França e gravamos um CD. Me especializei em música medieval e nossas pesquisas remotam o período que vai desde a baixa idade média até a alta. Obrigada por acender minhas lembranças, um momento tão difícil para mim. Também sou saudosista e gosto de expressar meus sentimentos. Abraços.
Carla
04/06/2008 08:29