sábado, 3 de maio de 2008

METÍNCULOS E LEVÍNCULOS

Há muitos anos atrás, quando eu morava em Londrina e trabalhava na Universidade Estadual do Paraná, tinha um amigo, o Ivan, de outro curso, que era muito divertido e espirituoso. Certa vez, quando conversávamos, um grupo de amigos, sobre pessoas que só se dão mal na vida, ele veio com essa: -- “Sabem de uma coisa, na vida só existem dois grandes grupos: os Metínculos, os que só levam a melhor e os Levínculos, os que só se dão mal”. E ficamos um longo tempo, entre um chope e outro, lembrando de casos de conhecidos que se enquadravam nessa “teoria” do nosso amigo.
Hoje, fiquei com vontade de brincar um pouco, tentando desenvolver essa teoria, que a meu juízo, tem muito de verdadeira.
Quem de nós não conhece protagonistas desses dois grupos? Vale lembrar que, como em todos os grupos, há frações como resultado de cruzamentos os mais diversos entre os tipos originais. Poderia começar dizendo que os Mentínculos são os que estão sempre na subida do morro e os Levínculos na descida da ladeira. Ou que os primeiros vivem metendo lenha e os segundos estão sempre cuidando dos prejuízos.
Se tiver que fazer um breve perfil desses personagens, diria que os Metínculos geralmente, por força do ofício, são pessoas loquazes, sedutoras, tidas como bom papo e boas companhias, portanto, a priori, candidatas, a levarem a melhor, em qualquer dos seus intentos. Os Levínculos, até por força do contínuo sofrimento, são mal humorados, pessimistas, chorões, não raro más companhias, logo, predispostos a se darem mal nas suas empreitadas.
Como o ser humano é um ser complexo, muitas vezes, os Metínculos são perdoados com facilidade em suas ações de mau caratismo, possivelmente em razão de sua simpatia no pedaço. Afinal, eles não dão o pão, mas oferecem, o circo (com ônus, é certo), a quem quiser usufruir de sua companhia. Por sua vez, os Levínculos, apesar de sua correção, nem sempre contam com solidariedade nos seus freqüentes fracassos, também porque são pessoas pesadas e oferecem pouco na sua convivência, afinal, há que se ter um pouco de pilantragem pra animar a vida.
De outro prisma, há um contraponto entre esses dois grupos que acaba facilitando a sobreposição de um sobre o outro. É que no terreno dos Metínculos, há mais organicidade, eles são mais estruturados, mais conformados na sua versão de tirar vantagem, há como um certo orgulho na sua contabilidade de passar os outros pra trás. Já os Levínculos, como se sabe, no terreno do bem, há uma grande dispersão, eles até são a maioria, mas de nada adianta, pois não têm aquele charme, aquela competência pra fazer valer suas ações e enfrentarem seus opositores.
E tem ainda um detalhe que faz toda diferença: a sorte está com os Metínculos, eles ganham loteria, rifas, bingos, são uns danados, nesse particular. Os Levínculos, coitados, não ganham nem sorteio da paróquia ou culto do bairro nem mesmo rifa que corre em família. Quando tiveram algum ganho desses, foi em aposta de briga de galo na periferia da cidade entre galos caidaços, que quase nem conseguiam bicar um ao outro. Como vêem, dá vontade de chorar com pena desses irmãos em Cristo.
E o pior de tudo: parece que os Levínculos têm uma atração fatal pelos Metínculos. Logo, é caso perdido...
Enfim, meus caros, o restante dos humanos mortais, são todos cruzamentos variados de classe social, de geração, de etnia, de gênero, e até de sexualidade, dos capitães desses dois grandes times, modelitos da sorte e do azar. Podem conferir! E depois me contem...


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