sexta-feira, 5 de setembro de 2008

O AMOR É UM ESTADO DE RISCO

5ª Fase

QUANDO O AMOR ENLOUQUECE

É quando a gente se descabela. Ao pé da letra. Como disse na fase anterior, há luta e luta. Se você resolver partir para a luta irracional, salvem-se todos porque vai ser uma loucura. Nesta luta barra pesada, o que vale é o vale tudo, é o desespero, é puro barraco. Já notaram que as pessoas ficam mesmo descabeladas? Os ameaçados pela invasão de outro ser no seu território, partem para a ignorância, como se diz vulgarmente. Cuidem-se os invasores porque estarão jurados de morte.
Se o casal morar na mesma casa, uma das reações é o quebra-quebra, é o estraga-estraga. São livros que são rasgados, cds que são riscados, cadeiras que são jogadas, enfim, objetos da casa que são quebrados, resultando num prejuízo doído no bolso e no coração. Se você tem pistas da outra pessoa, destrua tudo porque vai imperar a total invasão de privacidade, no seu computador, nos seus escritos, na sua agenda, seja lá onde possa ser achada uma prova qualquer.
Olhem, meus caros, essa fase é barra! É choro e ranger de dentes. Os vizinhos, coitados, pisam em ovos, também só ouvem gritos, choro, maldição. Não raro, a coisa descamba de vez, e a pancadaria rola adoidada, até com chamada de polícia e sei lá mais o quê. Penso sempre nas seqüelas dessas violências entre casais, que podem enterrar, de vez, a relação. Ou não, na lógica de Nelson Rodrigues.
De todas as manifestações dessa fase, pra mim a mais dolorosa é a apelação, que pode se revelar de várias formas. É quando pinta a perda total da auto-estima, quando a tônica é a chantagem, até com ameaça de suicídio com a famosa frase: ”se você me deixar, eu me mato”, com choros desesperados, com súplicas descabidas, com perturbações na sua casa tipo telefone tocando a noite toda. A intenção é tirar sua paz vinte e quatro horas de cada santo dia.
Por outro lado, naquele que está evolvido com outra pessoa, pinta o famoso sentimento de culpa, por um lado e, de outro, conta com a interferência de amigos que ficam com pena da pessoa “atingida” e, não raro, fazem aqueles apelos pra você deixar o terceirizado e tentar a reconciliação.
Qual o prognóstico? Na minha visão, se tiver rolado o vírus da paixão na extra- relação, é provável que não tenha solução e o jeito é deixar rolar pra ver no que vai dar; se após os dois ou três anos, virar fumaça, poderá haver um retorno, mas se a paixão se transformar em outro amor, aí esse atual foi pro espaço. Mas se for apenas um caso sem grandes implicações, poderá haver recomposição da relação, apesar de que, em algumas dessas experiências, o quesito confiança pode ter sido abalado pra sempre. Contudo, aquele que pulou a cerca também pode ficar muito mal, aliás, fica mal antes, durante e, às vezes, depois. Como vêem, ninguém ama impunemente. Mas, esse é o tema da última fase desse tratado amoroso.


6ª Fase

QUANDO O AMOR ACABA

Na fase anterior, esqueci de dizer, que só nos resta mesmo torcer pra que em caso de paixão já contraída pelo nosso parceiro, o vírus tenha baixa potência e que vire logo fumaça. Mas se for pra valer, só resta ao abandonado paciência e resignação. Em outras palavras, o que chamam de dignidade.
Na verdade, penso que quando alguém se envolve pra valer com outro alguém, é porque havia fumaça. Quando se criam distâncias muito grandes entre o casal, o território está aberto a outros envolvimentos, daí o melhor mesmo é o cuidado da relação, no dia a dia.
É verdade verdadeira que nada há de mais triste do que quando um grande amor acaba. É um vazio, uma sensação de fracasso, de desânimo, de sofrimento profundo. Mas como tudo passa, essa dor também vai passar. E um dia a gente vai olhar pra trás e sentir, pelo menos, que lutou, ainda que de forma enlouquecida, mas foi a nossa possibilidade naquela situação. O melhor é guardar as boas lembranças do amor vivido, afinal foi um privilégio essa possibilidade.
Ter um único grande amor é o sonho de todos nós, mas convenhamos, é muito raro. O que temos, ao longo da vida, são alguns grandes amores, e talvez, na maturidade, algum deles nos acompanhe até a passagem dessa vida para o Além.
Como mensagem final desse Tratado do Amor, cada um de nós, depois de viver cada amor, deverá estar disponível e ter esperança de encontrar outro amor, sempre e sempre, pois poderá contrair um novo vírus da paixão a qualquer momento e começar tudo de novo, atendendo aos apelos da vida.

Um comentário:

Anônimo disse...

Querida Rose!

O seu Tratado é maravilhoso!
Comno você diz "O amor é um estado de risco", porém um risco sempre necessário e válido. É preciso Amar. Amar e amar. Às claras e às escuras, porque só Amor vale a pena!
Carlos Drummond nos diz:
"O ser busca outro ser, e ao conhecê-lo
acha a razão de ser, já dividido.
São dois em um: amor sublime selo
que à vida imprime cor, graça e sentido."
Acredito que o Amor é um risco, mas a vida é mais interessante quando arriscamos, no claro e no escuro, no dois e no um. Não acha?
Um super abraço!
Margarete Barbosa