sexta-feira, 12 de setembro de 2008

ZILMINHA DO JEGUE

Minha mãe, que Deus a tenha, era uma grande contadora de histórias, um dom especial que ela tinha. Nós, os seus filhos, ouvimos mil vezes suas histórias sobre a nossa infância, que pedíamos que ela contasse novamente aquelas que mais gostávamos, sempre que havia alguma reunião de família. Ela, como é de praxe entre pessoas dotadas desse dom, não se fazia de rogada, gostava mesmo era de se exibir e, cada vez que repetia cada história, ela acrescentava uns toques novos, o que nos deleitava mais ainda. Ao longo do tempo, seus ouvintes foram se ampliando entre os amigos de seus filhos. Uma das minhas histórias prediletas era a do cavalo, que ela montou numa longa viagem, amparada por aqueles empregados, uma espécie de acompanhantes de viagem no interior do Maranhão. Essa foi uma viagem de mudança e ela teve que levar consigo eu e meu irmão mais velho, de Grajaú, minha terra natal, para Barra do Corda, município vizinho, onde residiríamos, e lá já se encontrava meu pai, que era funcionário público federal na função que equivale hoje a fiscal de rendas, e por conta desse cargo, volta e meia mudava de cidade.
Ela contava que nessa montaria do cavalo tinha caído muitas vezes no percurso da viagem, chegando toda moída ao final dessa penosa travessia. Só que essa narrativa era recheada de acontecimentos divertidos que ela sabia nos presentear com muito humor.
Certa vez, uma amiga de Recife que veio ao Rio, foi comigo visitar a minha mãe, e como sempre, rolaram várias histórias, entre elas a do cavalo. Ao final, disse minha amiga:
- D. Zilma, acho que não era cavalo não esse animal de sua viagem, pra senhora cair tantas vezes, só podia ser um jegue, que por ser baixinho, suas quedas não lhe arrebentaram de vez.
Minha mãe, meio marota, disse :
-Ora, ora, eu passei a vida toda achando que era um cavalo, mas pensando bem acho que era mesmo um jegue. E caiu na gargalhada.
Daí pra frente, minha amiga, que é uma grande gozadora, pôs o apelido na mamãe de Zilminha do jegue.
Passados treze anos desse episódio, essa mesma amiga mandou, de Recife, um presente pra Maria Vitória, um bebê que agora estamos adotando. Ao abrir o pacote, deparei-me com um bichinho lindo de pelúcia, e exclamei:
- Nossa, que cachorro bonito, que raça será a dele?
Chamei minha secretária, que é uma cearense, e perguntei-lhe:
- Que cachorro é esse?
Ela, toda metida, certa de sua resposta, respondeu:
- Não sei não, mas que é um cachorro bonito isso ele é.
Duas horas depois, chegou minha irmã em minha casa e ao lhe mostrar o presente, ela exclamou:
- Não acredito! Como aquela danada foi conseguir justo um jegue pra mandar de presente? Só mesmo no nordeste, pra se achar um bichinho desses.
E eu fiquei com cara de tacho, como se diz por aquelas bandas, pois o mesmo tinha sela, crina e cabresto, jamais poderia ser um cachorro!!!.

5 comentários:

Anônimo disse...

Oi, Rose.
Voce está cada vez melhor.
Abraço.
Edson.

Anônimo disse...

Adorei, Coração!Mas confundir jegue com cachorro, só mesmo vc e Pitoco, que já pegou a doença da patroa.Saudade de Zilminha.
Bjao
Almé

Anônimo disse...

OI ROSE,
Muito lindo vc lembrar dessa história!Fiquei com saudades de nossa Zilminha.
beijo
Fafá

Anônimo disse...

Caríssima professora,

Adoro seus post, principalmente quando acho que vc vai filosofar..e..vc vem com uma dessas histórias de sua infância ou juventude, repletas de simplicidade, mas profundas no conteúdo!
Abraços,
Ane

AmareisB disse...

Adorei reler esta aqui. Lembro-me bem de d.Zilma. Um prazer dar risada c ela novamente.