sábado, 11 de outubro de 2008

OTIMISMO OU PESSIMISMO – UMA QUESTÃO PARA POLEMIZAR

Muito se fala sobre otimismo ou pessimismo, com uma visão muitas vezes equivocada, como se as posições sobre as situações da vida pudessem ser reduzidas a esse binômio. Pois bem, vou lhes contar um episódio que marcou definitivamente minha posição a respeito dessa questão.
Alguns anos atrás, assisti a uma entrevista com o grande escritor português José Saramago no programa Roda Viva do Canal TV Brasil. Ao lhe perguntarem qual era seu partido político, Saramago respondeu: ” sou do PCB”. Um dos entrevistadores afirmou: “é o que eu pensava, você é do Partido Comunista Português”. Saramago disse: não me refiro a esse partido, sou do Partido dos Cidadãos Preocupados”. Foi aquela risada geral. Saramago em tom solene explicou : “falo sério, é um partido de verdade, ele tem como referência principal o pessimismo”. De novo, foi uma surpresa pra todos ali, questionaram a negatividade do pessimismo e outros tais. Daí o escritor arrematou: “vocês estão enganados, o pessimismo não é negativo, penso que o que muda o mundo é a visão pessimista, pois os seus adeptos correm atrás das soluções, enquanto os otimistas acreditam que tudo está bem ou vai ficar bem e, em grande medida, acionam seus canais de mudança com lentidão ou acabam por se acomodar. Os pessimistas, não, eles arregaçam as mangas e vão à luta, porque sabem que o centro de referência e orientação é a realidade nua e crua, sem ilusões de mudanças mágicas. Portanto, são os pessimistas que, de fato, provocam as mudanças”. Desde, então, tornei-me uma adepta do PCB do Saramago.
A partir dessa premissa defendida por esse ícone da literatura, vou caminhar um pouco nessa direção. A meu juízo, faz todo sentido esse pessimismo da razão, como diria o pensador italiano Antonio Gramsci, pois o mesmo pode levar com mais eficácia à nossa indignação com a realidade (re)conhecida, impulsionando a vontade para transformá-la, somando com o lado otimista, numa real dialética. Do meu ponto de vista, a dosagem dos otimistas não tem a mesma força que a dos pessimistas pra arregaçar as mangas e ir à luta.
Também pode ser que eu tenha uma certa implicância com essa história de otimista ser o bom, o simpático e pessimista o ruim, o rabugento. Sem falar que há casos de uma relação direta entre otimismo e alienação.Com todo respeito! Sei lá! Enfim, esta minha rabugice fica por conta de eu ser uma mulher mais noturna e menos solar, apesar de leonina. Afinal, funciono mais à noite, de manhã gosto mesmo é de dormir.
Portanto, tudo é uma questão de visão das coisas, que inclui muitos ingredientes que movem o mundo, que mudam a cabeça das pessoas, que apontam outros horizontes, que sinalizam a esperança de uma vida melhor.
Ao final desses meus considerandos, pergunto a vocês: dá pra ser otimista diante dessa atual e alucinante crise capitalista? Não será por uma considerável dose de pessimismo, embalada pelo desespero, que poderá haver alguma saída para todos nós, pobres mortais?

Um comentário:

Anônimo disse...

Rose:

Quase sempre vou me encontando com seus pensamentos. A dor da perda, o pessimismo da razão e o otimismo da vontade. A lúcida idéia de uma chegada triunfal de uma nova vida!! Às vezes a gente se estranha!!! (Gabeira, não!!!) Mas no geral somos duas mulheres de um mesmo tempo e de ideais muito próximos. Se estávamos em crise pela total impossibilidade de gritarmos utopias amassadas e tripudiadas, agora chegou a vez deles lerem Marx. Um beijo grande, de Lúcia.