sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

MALABARISTAS SEM FUTURO



Dias atrás num sinal de trânsito de uma rua qualquer do Rio de janeiro, uma cena me comoveu até às lágrimas: três crianças de idades diferentes faziam um malabarismo com uma velha bola de borracha. O primeiro no chão, outro em cima dos seus ombros e o terceiro também em cima do segundo. Era patético aquele arranjo porque as pernas, finas e tortas, dos que estavam no segundo e terceiro andares tremiam tanto, ameaçando a qualquer momento se esborracharem no chão. Nunca vou me esquecer do que vi quando aqueles múltiplos olhos cruzaram com os meus. Eram a tradução da mais pura tristeza e da vergonha que sentiam, expostos aos nossos indiferentes olhos cotidianos, acostumados com essa nova onda da miséria urbana.
Os movimentos dos malabaristas eram a expressão das suas vidas: feios, desengonçados, desarticulados. Da maneira que a vida os produziu. Cruel moldura da nossa omissão e do abandono dessas crianças sem amanhã.
Por muitos dias, aquela lembrança me incomodou, pela tristeza que emanava dela, pela mensagem da indiferença que as vitimou, pela naturalidade dos olhos públicos e privados como vêem os dramas humanos, no dia a dia.
Com a alma sombria, carregada desses sentimentos, me lembrei de Brecht ao nos alertar para esses dramas da condição humana: “Que nunca se diga isso é natural !”

2 comentários:

Anônimo disse...

Rose,
Já tive esse sentimento e è duro! o que fazer é a pergunta que não pode calar.Eu procuro ser generosa e ajudar ao pr´ximo a partir do que acredito como valor e solidariedade humana.Acho que as pessoas estão no caminho de construção de renovação de valores.Veja o livro do Jurandir Freire"O risco de cada um".Talvez seja um começo para colocar em ação a mudança interna.beijo ,Fátima

Anônimo disse...

Eu não consigo deixar de pensar no desperdício de material genético.

Quero dizer com isso que fico analisando o biotipo desses meninos de rua e consigo identificar neles futuros possíveis atletas olímpicos, jogadores de basquete, futebol, vôlei, etc.

Por mais que se questione o governo de Cuba, mas lá é fantástico o incentivo que se faz aos jovens, principalmente quanto à prática de esportes.

Enquanto isso, no Brasil...

beijos,
Denilson