sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

SONHOS, FANTASIAS, ILUSÕES - IMPERIOSAS NECESSIDADES FRENTE À VIDA REAL

Fico pensando o que seria de nós, esses complicados seres terrestres, se não tivéssemos ao nosso alcance esses escapismos deliciosos para nos ajudar frente à realidade crua e nua de nosso nem sempre santo dia. Ao mesmo tempo, imagino se todos os seres precisam, de fato, desses ajudantes. Será que as pessoas que amam a vida, incondicionalmente, precisam menos?
O que sei é que quanto mais vivo mais identifico formas cada vez mais criativas de fugir da vida real e fico fascinada com tais inovações que expressam a capacidade do homem de criar mecanismos, instrumentos e situações de auto defesa e proteção contra realidades insuportáveis ou, simplesmente, buscando ter mais prazer.
Chamo a atenção de vocês para o significado de afirmações de pessoas sensíveis e especiais do nosso planeta que trafegam no terreno dessas necessidades. A Arte, por exemplo, maravilhosa criação do homem, em suas múltiplas expressões, é uma espécie de fantasia maior. Um dos seus representantes, Fernando Pessoa, poeta iluminado, nos apontou que “a arte é uma confissão de que a vida não basta”. Nietzsche afirmou: ” temos a arte para que a verdade não nos destrua”. O sentido explícito e implícito dessas afirmações nos dá munição para uma bela viagem de interpretações.
A Religião é também uma manifestação poderosa nesse território, totalmente diversa da Arte. Nela identificamos variadas manifestações da substituição do nosso próprio significado do que chamamos vida através de seres do além, entes superiores ao homem, os deuses do Bem. Nesse caso, a fantasia atua no papel de proteção, de promessa, de compensação ao exercício do bem, de cura da alma, do sobrenatural. A Religião é um lenitivo extraordinariamente forte e, por vezes, pode produzir paradoxalmente a destruição da vida, em nome dos seres do Bem, como atestam as guerras religiosas em vários períodos históricos.
Acabamos de vivenciar mais uma passagem formal do calendário anual de outra manifestação ilusionista, focada especialmente nos ingredientes da alegria, da folia e do barulho inofensivo, expressões festivas cujo nome é Carnaval. Atuam como uma espécie de vacina coletiva para mais um enfretamento do resto do ano, abrigando um reservatório no atacado da dança e da cantoria com vestimentas fantasiosas, invólucro de pretensões em que vale tudo que se gostaria de ser e como expressão de brincadeira, de deboche, de ironia, de crítica social.
A Tecnologia opera como uma aliada das criações inteligentes, desenhando possibilidades maravilhosas e, por vezes, reveladoras do poder ilimitado na busca da superação do sofrimento e da insatisfação humana ou simplesmente de canais de simulações da felicidade. Do que pude conhecer até o momento, a Second Life, uma das criações mais recentes, é a mais original viagem nesse início do século XXI, como fantástica e até assustadora capacidade da invencionice humana. Este jogo da internet monta uma realidade virtual formada por ilhas que reproduzem cidades e assemelhados, onde pessoas reais tornam-se personagens e desfrutam de uma Segunda Vida. O Avatar, personagem vivente desse mundo virtual, é o nosso avesso, algo como alguém travestido de si mesmo.
O Avatar, meus caros, é produto de nossas mentes e coracões magoados com a vida real, de nosso cansaço com tentativas de ser feliz, do nosso mergulho inútil nos sonhos impossíveis abatidos pela crueza da realidade. Enfim, de nosso saco cheio com nossa vidinha de merda.

3 comentários:

Anônimo disse...

Rose,
É desnecessário dizer que amo suas crônicas... Você já sabe disso.
Mas é engraçado que tenho uma imperiosa necessidade de dizê-lo...

A crônica do pixador e essa sobre: “SONHOS, FANTASIAS, ILUSÕES - IMPERIOSOS ESCAPISMOS DA VIDA” me chamaram a atenção para algo em comum: A Arte.
Em suas múltiplas expressões a Arte nos irmana, talvez por trazer vários sentidos e significados, mas sempre representando um anseio humano: ser Feliz.
O Ser Feliz é um exercício diário. É uma Arte: a Arte de Ser Feliz todos os dias, superando os sentimentos da “crueza da realidade” e do “saco cheio com nossa vidinha de merda”, que, a meu ver está implícito nas duas crônicas, inclusive em um dos comentários sobre o pixador. No comentário temos a expressão de indignação de uma de suas leitoras a Ana Paula.
O mais engraçado é que eu me identifico tanto com você e com ela ao mesmo tempo, pois sinto na indignação uma expressão artística de pessoas que amam a vida, que sonham e buscam fazê-la cada vez melhor para si e para os que nos cercam.

Um super abraço

Margarete Barbosa

Anônimo disse...

Coração, gostei muito dessa crônica. Bem escrita, apesar de equivocada. Arte não é expressão de escapismo, mas pura recriação da vida. Fugir da "vidinha de merda" não, recriá-la. Mudar o jeito, hábitos arraigados, valores apodrecidos. Esse é o desafio. Second life é leseira.
Beijos

Anônimo disse...

A arte nao e´ expressao de escapismo , mas salva , felizes sao os que conseguem expressar sua arte!
Rose , bjs
Monica Marques