sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

O PICHADOR DA MADRUGADA

- O que houve? Por que está correndo assim?
- Deixe eu entrar, pelo amor de Deus. A polícia está vindo atrás de mim. Eles me viram pichando um prédio.
- Está bem, entre rápido.
- Então, é pichador?
- Sou.
- Por que faz isto?
- Pra agüentar essa vida chata que rola por aí.
- Por que logo pichação de prédios na madrugada? Não acha perigoso?
- Por isso mesmo, é divertido porque tem perigo no pedaço.
- E se a polícia te pegar, não tem medo de ser morto?
- Não sei, não penso nisso, atrapalha meu barato.
- Me fala desse barato de pichar. Como é isso?
- É massa. Ficar lá no alto das janelas dos bacanas e tacar o piche é dez. Fazer aqueles desenhos dá um frio maneiro no gargalo.
- Desenhos? O que vejo são garranchos sem nenhuma arte.
- Pra mim é bonito. É a minha arte, o que sei fazer.
- Mas, isso não tem um quê de ser uma vingancinha contra alguém ou alguma coisa? Por que não fazer essa arte no lugar adequado?
- Não sei não. Pode ser isso também. Quero fazer o que tenho vontade, sem ninguém me enchendo o saco, meu pai, minha mãe. Agora, se fosse fazer noutro lugar, não ia ter graça.
- Acho que te entendo.
- Pode parar aqui?
- Adeus. Boa sorte!
Eduardo seguiu em frente, com uma estranha emoção por conta do pichador.

2 comentários:

Anônimo disse...

Oi, Rose.
O comentário vai via email mesmo pois não consigo deixá-los no blog.
Tenho lido as suas crônicas. Sempre muito boas.
A do pichador eu resolvi responder de qualquer forma porque me pareceu que você "se solidarizou" com a ação. Talvez não seja esse o verbo adequado (solidarizar-se), mas me foge a palavra exata. E sinceramente eu tenho horror a pichador. Eles não respeitam parede nenhuma. A fachada mais histórica, a mais simples, a mais pobre, a mais rica, nada escapa. Com certeza são bastante democráticos. Seja rico ou pobre seu muro vai ser pichado e eu não entendo essa vontade de "peitar" policiais e quem mais quiser cuidar de sua parede. Isso é coisa de rebelde sem causa. Existem muitas outras formas de protestar ou de sentir tanta "emoção". A coisa do pichador me lembra a dos mijões que lambuzam calçadas, bancas de jornais e pneus de automóveis, embora o que os leva a fazer essas coisas sejam motivos diferentes. O pichador também me lembra a coisa da desordem para usar uma palavra em moda hoje no Rio. Não é só desordem, é baderna, é falta de autoridade, é desrespeito. Os rapazes que bateram na empregada doméstica também sentiram o maior prazer no que fizeram.
Que mal há em se ter uma fachada de casa, de prédio, de loja, limpinha? Isso é coisa de burguês? De colonizador? De explorador?
Por quê pichar o Cristo Redentor? A Central do Brasil? A banca de jornal?
Sinceramente´...
já viu que fiquei revoltada, né? rkkkkk
02/02/2008 23:25

Anônimo disse...

Li as duas últimas crônicas, hoje achei muita graça. O que acho muito engraçado é que a visão que temos de você inicialmente é completamente diferente do que podemos contemplar lendo esta suas crônicas e lembrar de você falando é o que dar mais vontade de rir.Parabéns.
Beijos,
Benvinda

05/02/2008 12:07